Nas asas da Pan Air
Nilton Victorino Filho
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 21/12/19 12:50
Gênero(s): Comédia Cotidiano
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 3min a 4min
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Palavras: 585
Livre para todos os públicos
Capítulo Único Nas asas da Pan Air

E, voltando aquela máxima de que as músicas reativam a minha memória, dia desses, eu ouvia a imortal música do Milton e Brant, aquela que diz: "a primeira Coca Cola, foi, me lembro bem agora, nas asas da Pan Air."

A minha primeira não foi voando, foi na Casa da Infância mesmo, de quebra vou lembrar o meu grande amigo de infância, o Clóvis.

Primeiro o motivo da propaganda...em todos os fins de ano, acontecia no teatro da Casa da Infância, um show, patrocinado pela fábrica de refrigerantes, haviam comemorações na quadra e apresentação de música e dança no teatro, certa feita o cantor Silvio Brito deu o ar da graça e nos animou, porém, a estrela mesmo era o Tio Bill, um artista que tocava vários instrumentos ao mesmo tempo.

Quando terminava tudo e durante mesmo, havia larga distribuição de doces e, é claro, Coca Cola.

Beleza, o Clóvis era da minha turma então, amigo desde o berçário, tinha um irmão mais novo chamado Clodoaldo, que era da turma subsequente, igual a mim.

Bem, se alguém nos visse juntos, teria a certeza de que o amigo tinha, pelo menos uns três anos a mais da minha idade, era gigante mesmo o Clóvis.

Seu corpo crescia em tempo diferente do das crianças normais, com pés e mãos descomunais, não era raro que ele vivesse derrubando canecas e pratos na refeição ou em filas, chutando canelas alheias, em quadra, todos temiam as famosas bicas do Clóvis.

Todo esse desajeitamento merecia uma atenção profissional especial, duas vezes por semana a madre Denise o dava aulas de educação física que servia para ajudá-lo na coordenação motora e, para que ele visse um bom exemplo, a madre me arrastava para as aulas junto.

O leitor vai supor que, sendo o menino Clóvis o próprio mestre dos desastres, devia ser motivo de riso dos outros meninos...nada disso, só quem zombava disso era o próprio Clóvis, dotado de um humor cáustico, ele próprio fazia piadas de si e isso nos levava sempre às risadas, portanto, esse meu amigo foi o primeiro palhaço que conheci que não precisava se pintar.

Bom, a festa da Coca Cola acontecia sempre no último dia de aulas, o Tio Bill era um adulto muito paciente com crianças, enquanto tocava sua gaita, pandeiro, bumbo. prato, bateria,tudo ao mesmo tempo, dizia:

_Isso é muito fácil de se fazer, vejam.

Insatisfeito em só falar, o Tio Bill resolveu mostrar o quanto era fácil.

_Agora eu vou escolher um de vocês e vou mostrar que é muito fácil mesmo.

A platéia se quedou em expectativa, o artista apontou o dedo a esmo e acertou o Clóvis, pior erro de sua vida, o Clóvis já subiu rindo, o Tio Bill não entendeu nada mas, a platéia já ria por antecipação.

O Tio Bill lhe deu um pandeiro e passou a ensinar, o menino tentou e não tirou som nenhum do instrumento, algumas batidas e o pandeiro voou, já haviam meninos deitados no chão de rir.

O Tio Bill tentou o prato e nada, o tambor, negativo, só risadas que cresciam, o artista que era mulato, estava vermelho...então ele se abaixou um pouco pra ficar da altura do guri e disse em voz baixa, para o microfone não captar.

_Moleque sai daqui agora, senão eu te jogo lá embaixo.

Enquanto descia a escada que levava ao palco, o abusado levantava os braços para ser ovacionado pelos fãs, o Tio Bill continuou o show:

_ Como eu dizia, nem todo mundo pode aprender música...

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Apreciadores (1)
Comentários (1)
Postado 16/10/20 01:05

A dimensão cômica dessa obra chega a transbordar. É impossível ler e não rir. Esse final é LENDÁRIO! Ao ler, me senti parte dessa platéia.

Obrigada por compartilhar conosco!

​Meus parabéns ♥