Templo dos Ratos
Sabrina Ternura
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 08/09/20 02:15
Editado: 08/09/20 02:25
Avaliação: 10
Tempo de Leitura: 2min a 3min
Apreciadores: 8
Comentários: 7
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Usuários que Visualizaram: 13
Palavras: 456
Não recomendado para menores de dezoito anos
Notas de Cabeçalho

“I'm already under your skin

‘Cause I'm the big bad wolf, now let the games begin

(Big Bad Wolf - In This Moment)

[Esse texto entra naquela categoria de proibido para maiores de 100 anos, então continue lendo e ponha sua conta em risco]

Capítulo Único Templo dos Ratos

Existe algo de mágico em como os animais se movem por instinto, quando estão aprisionados em um lugar que não os agrada. Perdidos em meio do labirinto de suas incertezas, eles vagam pelo território inimigo como soldados cegos. Por isso há tiros em todas direções, trombadas indesejadas e feridas feias que não se sabe como foram feitas.

Todos esses devaneios são feitos em meu porão, enquanto observo minha sádica invenção. Se o governo perguntar o motivo, direi:

— Voltado exclusivamente para fins de pesquisa.

Agora, se minha alma perguntar a razão, como poderei responder algo diferente de:

— Voltado exclusivamente para fins de vingança.

Não me atrevo a mentir para mim mesma. Não depois de todos esses meses torturantes, onde eu era estranha dentro de meu corpo. Como se a todo instante ele espreitasse pelos arredores, pronto me atacar novamente. Menti para as autoridades que nunca acreditaram em mim desde o início, quando realizei a denúncia. Menti para minha família que não me direcionou nada além de desdém. Mas eu não poderia mentir para mim mesma, pois o medo que constantemente senti era a verdade que eternamente vagaria pelos pedaços de minha alma quebrada e isso jamais pode ser encoberto por mentiras.

Mas você sempre foi uma mentira, não é? Era um homem bonito, bem vestido, bom de lábia… Era um grande publicitário infantil e atraía menininhas de saia para a sua sala, mas elas não eram menininhas quando saíam de lá. Quando descobri isso, você quis me calar. Eu não era uma menininha quando entrei na sua sala, mas quando sai, me arrastando por não aguentar a dor, eu tremia de medo e repulsa como uma.

Você me estuprou, pois descobri a verdade dentro das suas mentiras, mas você não contava com as consequências. Por isso, aqui está você! Sendo estuprado pelo próprio pau em um orifício que só deveria descartar e nunca receber. Sendo invadido por dois ratos: um em seu estômago, o outro em seus pulmões. Sendo partido pelas marteladas que desfiro em seus braços e pernas.

Você ainda está vivo, mas quanto tempo você vai aguentar? Os ratos gritam dentro de você, desesperados. Se eu fosse eles, também estaria. Deve ser horrível estar dentro de alguém podre. Por isso, quando um deles perfurar seu corpo, jogarei confetes coloridos, exatamente como você fazia quando aquelas não-mais-menininhas saíam de sua sala eternamente traumatizadas. As autoridades ficaram cegas quando houveram denúncias, mas, hoje, prometo ser a justiça por elas e por mim.

A morte é muito para você, por isso valorizo cada um de seus suspiros de dor e agonia.

Deveria existir algo pior do que o Inferno para doentes como você. Deveria existir uma carrasca como eu para eternamente castigá-los em meu vingativo templo dos ratos.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Esse texto nasceu quando li O Meu Monstro , escrito pela @Yvi. Não há conexões entre as histórias e no meu texto tem-se a vingança plenamente feita, mas no texto dela vocês podem encontrar a perspectiva infantil que citei e, preparem os corações, pois eles vão se partir.

Interpretação da música: decidi colocar essa música como inspiração desse texto, porque vendo a letra me lembrei muito sobre o lobo nas vestes de cordeiro e como esse lobo destrói tudo quando entra. É como se essa protagonista, quando estava no cativeiro do lobo e foi estuprada, fosse o cordeiro. Agora a situação se inverte eternamente. Acho que a analogia da música nos permite essa interpretação, por isso a escolhi. Sem falar que a melodia é bem violenta e achei que combinou com a que o texto contém.

Obrigada a quem leu até aqui

Apreciadores (8)
Comentários (7)
Comentário Favorito
Postado 20/09/20 23:04

Brina, eu não sei nem por onde começar, principalmente depois que vi que o seu texto nasceu após a leitura do meu. Mesmo que não possuam ligação, as coisas fizeram muito sentido para mim. Algo como um complemento necessário para a obtenção da paz de espírito.

O fim é grotesco e brutal, como cada monstruosidade existente na face da terra merece. Infelizmente não são muitos os que acabam ganhando um fim digno de todo o sofrimento que causaram, mas a vingança é realmente um prato para se comer frio e nós não sabemos como é o inferno (espero que seja bem assim, com direito a ratos e vermes).

Esse lance de o Mal não se paga com o Mal nem deveria existir, só acho. O lance é a justiça, mesmo que distorcida - do ponto de vista dos padrões estranhos da sociedade.

Parabéns, Brinis. Parabéns mesmo!!

Postado 24/09/20 02:31

Você é uma inspiração imensa! Obrigada pela sua obra e por sempre nos trazer ideias reflexivas que podem ser banhadas com a Doença e um quê de verdade.

Obrigada, também, pelo comentário e presença, Flavinha

Postado 08/09/20 07:32

Que forte! me trouxe tantas sensações pesadas e ao mesmo tempo me deu vontade de ler novamente, como toda obra que você faz querida Brina.

Parabéns, como sempre, você atinge seu maximo, acho que não sou a unica estrela deste AC, tu és um sol todo!

Postado 09/09/20 01:08

Suas palavras sempre encantam o meu coração e meus olhos! Fico muito feliz que a leitura tenha sido boa (dentro dos limites possíveis kkkkk)

Obrigada pelo comentário e presença, Estrelinha mais brilhante da AC ♥

Postado 09/09/20 14:42

Senhorita Tortura! Que texto! Que texto!

Sou realmente uma amante de textos de vingança, mas esse texto em específico é o auge do auge da vingança, e eu pude saborear cada segundo, cada linha, cada palavra e cada letra!

É muito mais do que simples vingança, é uma verdadeira justiça! Pois a justiça judiciária não fez seu trabalho, então a justiça humana e pessoal estava sendo derramada sobre o monstro nojento.

Muito mais forte do que as cenas de tortura com os ratos, é a cena que a senhorita retratou com infeliz maestria... das menininhas que entravam meninas na sala do monstro, mas saíam não mais menininhas... essa sua metáfora me fez sofrer e me sentir péssima ao imaginar isso...

Toda a tortura é pouca, e depois a morte será pouca, e talvez só o inferno eterno fosse algo próximo do que ele merecia por ser esse tipo de monstro abominável e desprezível... Inclusive, adorei a ideia de ter decepado o pau dele e o ter estuprado com seu próprio falo arrancado... memorável.

Sua incrível capacidade de escrita sempre me encanta! Obrigada, senhorita Tortura, por compartilhar esse texto...

Um grande abraço <3

Postado 09/09/20 23:57

Me encanta demais saber que a senhorita conseguiu capturar tão bem a essência dessas palavras sombrias, mas carregadas de justiça!

Obrigada pelo comentário e presença, Mei

Postado 09/09/20 20:03 Editado 09/09/20 20:04

Monstruosidade e retribuição: eis as poderosas mensagens que me vieram no âmago ao ler este texto de temática pesada e deveras polêmica, abordada com uma maestria praticamente cirurgica pela autora, tanto na intensidade quanto no detalhamento.

Não há como não se entregar nem se deleitar com a cartase gerada pelo desenrolar da história, ainda mais com o modo revoltante e enojante como a besta fera do conto teve sua trajetória revelada. É o Mal sendo pago (com justica!) com um Mal ainda maior. E isso foi belíssimo de se ler, como tudo o que a Srta Tortura (ou as suas irmãs) compõe e compartilham conosco!

Bravo! Bravíssimo!

Atenciosamente,

Um monstro que também foi castigado (injustamente, na verdade) com ratos em um Universo Alternativo, Diablair.

Postado 09/09/20 23:59

Fico muito feliz que tenha conseguido transmitir tudo isso com essa obra. Todas as irmãs estão envolvidas no processo kkkkk

Desculpa, mas não consegui evitar de rir com os ratos kkkkkkkkkk devo concordar: foi injusto e gratuito.

Obrigada pelo comentário e presença, Diab

Postado 27/09/20 21:23

Eu prefiro acreditar que não sou fã de vinganças, mas amei cada segundo desta. Realmente, deveria existir algo pior que o Inferno para esses tipos de pessoa.

Obrigada por compartilhar esse saboroso sofrimento.

Postado 28/09/20 01:18

Fico feliz que tenha gostado!

Obrigada pelo comentário e presença, Malvinha ♥

Postado 12/10/20 05:06

Eu acho tão interessante que você consegue mesclar o gênero terror com crítica social. Apesar de toda a monstruosidade existente em cada ato - tanto do passado quanto do presente -, não deixa de ter uma crítica social intensa e incontestável aqui: a justiça falha que vivemos.

Infelizmente é uma realidade tão comum para tantas não-mais-menininhas e mulheres, e o mais doloroso é não ter o apoio psicológico vindo de quem deveria nos ajudar. Já não basta o trauma do ato em si, mas o abandono daqueles que deveriam estar do nosso lado também fere a nossa alma e nos induz ao silêncio. Silêncio esse que mata, que corrói, que corrompe.

Cada detalhe nessa vingança não foi colocado à toa, e cada mísero reconto do que a protagonista realizou é um lembrete forte e voraz do que ela sofreu. A justiça que lhe foi silenciada e negada, e que teve que realizar pelas próprias mãos.

Parabéns pela grandiosidade dessa obra, Tortura ♡

Postado 16/10/20 01:45

Amiga, você descreveu com perfeição tudo contido aqui.

Obrigada pela presença e comentário, Pam ♥

Postado 26/10/21 23:49

A carga presente nesse texto é imensa, assim como a minha satisfação. Como você sempre diz: a vingança é um algodão docinho que como com o maior prazer.

Parabéns, meu amor :)

Postado 30/10/21 23:16

KKKKKKKKKK o bordão, meu deus

Obrigada pela presença e comentário, meu bem ♥

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