Let Us Adore You
Sorelly
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 26/10/20 00:43
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 5min a 7min
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Palavras: 874
Não recomendado para menores de dezesseis anos
Notas de Cabeçalho

Come live with us in the palace

There's a room waiting for you

Come on

Come on

Come on

Just let us adore you

( Let Us Adore You – Steven Universo )

Capítulo Único Let Us Adore You

“Ei, meu amor, venha morar no palácio comigo. Deixe-me amá-lo como você deveria ser amado.”

A voz entoava em sua mente como uma canção melancólica; um prelúdio da morte. Ele queria gritar, se desvencilhar do abstrato e voltar a sua vida pacata e imoral que outrora desejou mudar, mas que agora era tudo que almejava com todas as forças.

– Era uma vez, em um reino nem tão distante, um rei havia se tornado pai de trigêmeas, um acontecimento que foi comemorado por todos os súditos durante uma semana. Nos anos seguintes, todo o reino floresceu como mágica; a economia havia sido restaurada, o índice de violência quase nula e as mazelas cada vez mais raras. Era como se a chegada das trigêmeas fossem um sinal divino de fortuna. E por anos a população manteve-se afortunada, enquanto as trigêmeas cresciam sendo amadas e idolatradas.

Não conseguia abrir seus olhos, era como se estivessem vendados por um pano invisível. Entretanto, mesmo rodeado da mais pura escuridão, ainda conseguia enxergar os olhos dela: o mais puro carmesim demoníaco. Tudo que restara era ouvir a voz aveludada enquanto sentia dedos subindo por seu braço direito em uma leve carícia. Segurou um grito, enquanto sentia seu braço arder, como se o rastro deixado pelo gesto pegasse fogo, se alastrando desde os dedos da mão até o começo do seu pescoço.

– Mas tudo começou a mudar no décimo quinto aniversário. Muitos serviçais juravam que havia uma maldade escondida nos cantos escuros do palácio, e alguns arriscavam dizer que havia um demônio oculto nas profundezas, com seus olhos que mesclavam entre vermelho, roxo e rosa. Sentiam-se vigiados constantemente, aturdidos com a sensação angustiante de uma presença demoníaca à espreita de quaisquer falhas ou solidão. E foi nesse ano que a primeira vítima veio a sucumbir: a rainha, que outrora foi um símbolo de beleza e vaidade, tornou-se esquelética e sem vida, corroída por uma doença que nenhum médico conseguia curar ou identificar. Até jazer serena sobre os lençóis de carmim.

Ouviu uma voz mais fina do seu outro lado, que repetiu o mesmo gesto ardente e doloroso em seu braço esquerdo. Doía e queimava como o inferno. Todavia sabia que nada disso era real. Era o preço a ser pago por ter o sangue proibido.

– Todavia, foi no décimo sexto aniversário que tudo começou a ruir. O rei, perdido e amargurado pelo fatídico luto de sua esposa, se retraiu em seus aposentos, não sendo mais visto por longos meses. Suas filhas, que cresciam tão belas e parecidas com a falecida rainha, eram um lembrete daquilo que nunca mais veria, e foi por não aguentar mais olhá-las que tomou a decisão usá-las como moeda de troca. E em um dia ensolarado, o rei resolveu convocar uma reunião com um reino vizinho, ofertando suas filhas como símbolo de união entre os dois povos, mas foram surpreendidos com a aparição de corvos que apareceram do nada, chocando-se com as vidraças até se tornarem carcaças banhadas em sangue: o presságio do puro mal.

Uma terceira voz foi ouvida, enquanto sentia delicados toques em suas pernas, antes de tudo voltar a queimar.

– Essa história soa familiar, querido Joseph? Mesmo com todos os avisos ocultos, você resolveu se aventurar por nossas terras. Achou mesmo que não descobriríamos quem é você e o que vocês fizeram no passado? – A primeira voz sussurrou em seu ouvido.

– Sabe, fazer um pacto com um demônio tem suas consequências, e vocês deveriam saber disso – disse a segunda voz.

– Mas o mais irritante é vê-lo tentar nos salvar, quando no passado você ajudou a nos condenar – A terceira voz sussurrou – Mas acho que devemos agradecer por isso, afinal, não teríamos dons tão incomuns – disse, enquanto apertava seu ombro. De seus dedos saíam pequenas fumaças, marcando-o com fogo. E pela primeira vez na noite ouviu-se um grito estridente.

– Você sempre a teve por perto, sempre recebeu o amor dela. É injusto que ela tenha nos rejeitado após todo o ritual, não concorda? – a segunda voz voltou a falar – E é injusto que você tente amenizar os erros do passado tentando nos salvar agora no presente. Seu destino já foi selado quando resolveu trair o seu rei e amar sua esposa.

Como em um passe de mágica sua visão foi devolvida. Joseph agora encarava três pares de olhos vibrantes: o rosa, que simbolizava o amor que lhes foi negado; o roxo, que transmitia a tristeza e introspecção; e por fim o vermelho, que emanava a sede de vingança.

– Mas nós sabemos a verdade por detrás de todos os seus atos. Nunca foi amor, sempre foi a busca por poder. Você achou que conquistando a confiança da rainha iria conseguir tornar-se o próximo rei, não é mesmo? Mas nunca pensou que ela jamais se submeteria a um escândalo desses. Oh, pobre Joseph, você acabou caindo na própria armadilha. – debochou a terceira voz.

– Mas não se preocupe, meu bem, esse quarto sempre esteve à sua espera. Então deixe-nos adorá-lo como você merece – a primeira voz disse rente ao rosto de Joseph, observando o pavor refletido nos olhos enquanto direcionava sua mão para o seu pescoço, marcando-o e o sufocando; um lembrete das torturas que viriam a seguir, planejados e sufocados por anos de silêncio.

Até aquele momento.

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Apreciadores (1)
Comentários (1)
Postado 17/10/22 20:49

Que criatividade!!! Adorei como você desenvolveu a temática em um clima de suspense, fantasia e terror.

Obrigada por compartilhar conosco!​​​

​​​Parabéns, Pam ♥

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