queria saber como escrever um pedido
Green
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 16/01/24 16:30
Editado: 07/03/24 02:34
Gênero(s): Crônica Reflexivo
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 3min a 4min
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Palavras: 588
[Texto Divulgado] "Cinzas no Deserto" Uma história baseada em algumas histórias baseadas em histórias que tanto amamos, de coração. Bora ler.
Livre para todos os públicos
Capítulo Único queria saber como escrever um pedido

queria saber como escrever um pedido de socorro de forma que minhas palavras fizessem sentido. tudo é tão abstrato em minha mente e sempre que tento me comunicar com o externo sinto como se as palavras soassem tão, ou até mais, abstratas quanto as imagino dentro de mim.

queria saber como entregar um pedido de socorro para alguém que possa me ajudar, mas à minha volta só vejo vultos. quando estou otimista, percebo os vultos como pessoas singulares que parecem andar em círculos com os olhos baixos direcionados para seus próprios umbigos. mas aí, quando aquela névoa cinzenta se aproxima de mim e adentra meus músculos e o sistema nervoso, os vultos se transformam em vários aspectos da minha própria sombra. todo e cada um deles tem uma coisa horrível para me dizer. todo e cada um deles é repleto de maldade, ódio e podridão. eu odeio quando meus olhos enchergam os vultos assim.

queria não precisar escrever um pedido de socorro... mais uma vez. todas as vezes que caio nesse mesmo poço, me cerco de desespero e esqueço se sou mesmo capaz de me ajudar. existem tantos argumentos que parecem provar que preciso de ajuda externa, existem tantos argumentos que tentam me convencer que a ajuda não aparece porque eu não mereço a presença de ninguém apto a me estender a mão. tantos argumentos que fazem tanto sentido quando dizem que, uma vez que eu vejo tanto sujeira nos vultos em volta, é isso que vejo em mim mesmo e por conta disso nada de bom vai me acontecer nunca.

eu sei que é um momento. eu sei que sentimentos passam. toda a percepção racional do que acontece dentro de mim me é simples de aprender. minha dificuldade está, no presente, em aceitar que é essa floresta escura que eu tenho que atravessar.

também sei que meu objetivo não é chegar ao outro lado, "superar uma dificuldade" e me livrar dos vultos em volta. não, meu objetivo é vagar o tempo que for necessário nessa floresta escura até que meus olhos se acostumem com o breu. meu objetivo é deixar de temer o que eu não consigo enxergar e, ao invés disso, pisar com confiança no caminho mesmo antes dos meus olhos conseguirem enxergar o mato no chão. meu objetivo é enxergar nos vultos a luz e os sorriso que as pessoas a minha volta vibram, é enxergar a minha própria luz e sorrisos. e para isso eu preciso continuar vagando na floresta, olhos bem abertos, e levantar toda e cada uma das vezes que eu tropeçar no escuro.

esse era para ser um pedido de socorro que eu não sei como entregar, nem para quem entregar, mas claro que sentimentos passam e o gatilho do meu pânico, no decorrer dessa carta, já passou por todos os estágios e voltou a repousar calmamente no interior da minha alma, adormecido mais uma vez.

ele pode acordar assustado por um barulho externo a qualquer momento mas, mesmo que eu queira sucesso na tentativa de entregar este pedido de socorro, tudo que me resta é aconchegar meu pânico nos braços acolhedores da minha alma e tentar entender como faço para que ele não acorde assustado outra vez. para que ele não me machuque outra vez. para que as sombras não me machuquem outra vez. para que eu não me torture de novo...

(e de novo...

e de novo...

e de novo...

e de novo...

e mais uma vez...

e outra...

e de novo...

tantas vezes que até me sinto anestesiado...)

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