Borderline Esquizofrênica
Sabrina Ternura
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 02/09/16 00:21
Editado: 13/01/23 23:00
Avaliação: 9.8
Tempo de Leitura: 9min a 12min
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Não recomendado para menores de dezoito anos
Notas de Cabeçalho

Salut, pessoal. Como vão? Novamente postando o texto do Torneio em cima da hora, mas tudo bem, rs.

Um informação válida para o melhor entendimento do texto:

- Síndrome de Borderline, também conhecido por Transtorno de Personalidade Limítrofe, é uma doença psicológica grave que provoca oscilação de humor, medo de ser abandonado pelos amigos e comportamentos impulsivos.

Por fim, gostaria de dizer que doenças psicológicas são graves! Nenhuma delas é uma simples frescurinha ou coisa boba. Devemos nos preocupar e trazer para perto de nós essas pessoas que convivem constatemente com esses tormentos internos.

Espero que façam uma boa leitura.

Baseado em surtos reais...

Capítulo Único Borderline Esquizofrênica

2 de Maio de 2013.

Hoje na aula de Língua Portuguesa, o professor pediu para que formássemos duplas. Sobrou eu e mais uma garota, chamada Samanta. Nunca havíamos conversado, mas sempre a observei. Ela é diferente das outras garotas e, assim como eu, também é sozinha. Ela me emprestou um lápis de escrever rosa com ursinhos, mas esqueci de devolver.

Esse foi o melhor esquecimento de minha vida, pois, amanhã, terei um motivo para conversar com ela.

3 de Maio de 2013.

Conversei com Samanta o dia todo.

Ela me faz bem.

Depois de tanto tempo, acho que estou voltando a ser feliz.

Talvez meu recomeço signifique estar com Samanta.

7 de Maio de 2013.

Pintei meu quarto de azul, pois é a cor favorita de Samanta.

10 de Maio de 2013.

Samanta e eu estamos cada vez mais próximos. Saímos para tomar sorvete segunda e terça depois da aula. A chamei para sair nos outros dias, mas ela não me respondeu no Facebook e muito menos apareceu na escola. Na sexta, ela não aparentava estar muito bem, mas mesmo assim estava sorrindo. Descobri que ela tem Transtorno Bipolar e não apareceu na escola por causa dos remédios que toma. Disse a ela que tudo vai ficar bem e que ela pode contar comigo, mesmo que eu suma de vez em quando.

11 de Maio de 2013.

Samanta tem o sorriso mais lindo que já vi.

25 de Maio de 2013.

Estou completamente apaixonado por Samanta.

27 de Maio de 2013.

Apelidei Samanta de Akemi. Ela me perguntou o que significava e eu, meio sem jeito, apertei o nariz dela e disse:

— Significa "brilho" em japonês.

Sorrindo e fitando-me profundamente, ela respondeu:

— Você é o brilho no meio da minha escuridão.

Nos abraçamos.

Gostaria de ter dito que ela estava enganada. Que, na verdade, ela era o brilho que iluminava a escuridão que eu sou.

Desculpe, pequena Akemi, mas eu sou a escuridão que te cerca.

2 de Junho de 2013.

Samanta surtou por três dias seguidos e está no hospital. Levo flores a ela e sempre conversamos um pouco sobre coisas aleatórias. Amanhã ela receberá alta, mas não poderei vê-la, pois vou ao psiquiatra receber meu diagnóstico. Não sei se devo compartilhar com ela sobre meus conflitos internos.

Tenho medo dela partir.

Tenho medo dela me partir.

3 de Junho de 2013.

"Matheus Augusto, diagnosticado com Transtorno de Personalidade Limítrofe, também conhecido como Síndrome de Borderline e Esquizofrenia..."

Parei de ler o resto, pois Samanta havia me respondido no Facebook. Voltei a ler o papel às 3 da manhã, quando Samanta adormeceu. Não me importei com nada no diagnóstico, pois agora, finalmente, serei feliz.

22 de Junho de 2013.

Após o término das aulas de hoje, decidi contar a Samanta que tenho sentimentos por ela. A surpresa em seu olhar era visível e, de uma forma extremamente gentil, ela disse que sentia o mesmo. Pedi ela em namoro e com apenas um simples "Sim", tornei-me o garoto mais feliz do planeta.

Jamais esquecerei do nosso primeiro beijo.

Jamais esquecerei de você, Samanta.

24 de Junho de 2013.

Samanta não me esperou na hora da entrada. Quando subi para a nossa sala, vi ela conversando com um garoto de nossa turma, Douglas. Fiquei furioso. Não falei com ela o dia inteiro.

Estou com a minha mão toda machucada de tanto socar as paredes de meu quarto.

Estou em pânico, pois amo e odeio Samanta ao mesmo tempo.

Estou enlouquecendo ainda mais.

P.S.: Odeio meus remédios, eles me dão sono.

25 de Junho de 2013.

Estava ignorando Samanta de todas as formas.

Porém, na hora da saída, quando o andar de nossa sala estava vazio, ela me puxou pelo braço e me perguntou o motivo pelo qual eu estava tão distante. Então, simplesmente surtei. Empurrei ela contra a parede, a ofendi com palavras que nem posso descrever e... perdi o controle. Quando cai na realidade, me deparei com o olhar assustado e a expressão de dor no rosto de Samanta. Acertei um soco forte o suficiente para derrubá-la. Tentei ajudar, mas ela simplesmente fugiu.

Desculpe por te machucar, Akemi.

Desculpe por ser sua dor.

3 de Julho de 2013.

Samanta me perdoou. Passamos uma borracha na situação. Ela ainda está com um pouco de dificuldade em se aproximar de mim, mas tudo bem, com o tempo isso passa.

Acho que tudo vai voltar a ser como antes.

Acho que a amo.

22 de Julho de 2013.

Hoje é nosso aniversário de um mês de namoro, mas não falo com Samanta há uma semana. Não retorno suas ligações, não respondo suas mensagens e quando ela vem aqui em casa, finjo que não estou.

Percebi que não sou suficiente para ela. Percebi que ela é incrível demais para estar comigo.

Ela não merece isso.

Ela não merece amar um monstro capaz de machucá-la.

2 de Agosto de 2013.

Samanta tentou suicídio pela terceira vez e está em coma há duas semanas. A culpa é minha... sou um ser egoísta, incapaz de me preocupar com os outros.

Daria de tudo para vê-la sorrir mais uma vez. Faria de tudo para voltar atrás e ter passado o nosso primeiro aniversário de namoro com ela. Porém, agora só me restam arrependimentos.

Eu deveria estar no lugar dela.

Eu deveria estar morto.

20 de Agosto de 2013.

Samanta recebeu alta no hospital.

Ela está melhor, mas eu estou em pedaços.

Ouço vozes e tenho surtos de agressividade quase o tempo todo.

Me sinto sozinho, me sinto desnecessário.

Sou um tipo de monstro?

4 de Setembro de 2013.

Os pais de Samanta me proibiram de vê-la. Não conversamos mais na escola e nem no Facebook, mas estou sempre observando-a. Ela fez novos amigos e parece estar feliz. Talvez, o motivo da tristeza dela fosse eu.

É melhor que eu não faça parte da vida dela.

É melhor que eu permaneça sozinho.

4 de Outubro de 2013.

Hoje é aniversário de Samanta.

Hoje eu a vi com outro garoto.

Hoje ela começou a amar outro garoto.

Hoje tive meu primeiro ataque de pânico.

23 de Outubro de 2013.

Samanta está apaixonada por outro garoto.

Continuo apaixonado por ela.

3 de Novembro de 2013.

Não saio de casa há uma semana. Quando não estou dormindo, estou me embriagando até não aguentar mais.

Minha mãe não se preocupa comigo, ela simplesmente chega em casa, pergunta se estou bem e vai para o quarto dela dormir. Meu pai não fala comigo há mais de um ano. Ele brinca de fingir que eu não existo.

Samanta está feliz com Henrique e estou feliz por ela estar bem. Eu a amo e ela partiu por minha culpa.

Acabei com a vida dela quando deveria estar tentando acabar com a minha própria vida.

10 de Novembro de 2013.

Eu estava no escuro, completamente perdido em meio a minha dor. Quando pensei em me entregar, ao longe avistei um ponto luminoso chamando meu nome. Era uma luz radiante que trazia-me felicidade.

Está luz era minha esperança.

Está luz... era o amor de Samanta por mim.

Está luz se apagou.

25 de Novembro de 2013.

Depois da consulta com o psiquiatra, encontrei Samanta. Ela estava linda e usava um vestido azul. Sem coragem de me aproximar, sentei em um banco e escrevi um poema para ela. Dobrei os quatro versos e pedi para que um rapaz entregasse. Me escondi atrás de uma árvore e a observei.

''Meu céu veste um vestido azul acima dos joelhos

E encanta as nuvens ao redor quando sorri.

Teu riso transforma minha escuridão em nuvem,

Teu riso, faz-me sorrir.

Amo-te eternamente, minha pequena luz.

Adeus.

M.A."

Quando ela sorriu e releu o poema, eu jurei que o vestido dela havia se transformado no céu e eu era somente mais um nuvem que vagava por ele.

24 de Dezembro de 2013.

As vozes estão me chamando.

Estou sendo perseguido por meus próprios demônios.

Estou me entregando.

Irei me entregar...

Estou muito sonolento. Onde estou?

— Matheus, é hora de seu remédio. Levante-se. — Diz uma mulher estranha.

— Q-Quem é você?

— Sou sua enfermeira, me chamo Carla. Venha, vamos tomar seu remédio.

Ela vem em minha direção com um seringa. Começo a me debater na cama, porém estou amarrado.

— ONDE ESTOU? POR QUE ESTOU NESTE LUGAR?

— Você está num hospital psiquiátrico, Matheus! Você foi diagnosticado com Síndrome de Borderline e Esquizofrenia. Faz dois anos que você tentou suicídio, não se lembra? Acalme-se, tudo ficará bem se você tomar seu remé...

— SÓ FICAREI BEM SE SAMANTA ESTIVER AQUI!!! ONDE ELA ESTÁ?

Carla me fitou longa e profundamente. Depois de alguns segundos, antes dela introduzir a seringa em meu braço com algum calmante e de meus olhos se fecharem, eu a ouvi dizer:

— Samanta não existe, Matheus.

❖❖❖
Apreciadores (7)
Comentários (2)
Postado 02/09/16 00:31

WOW é tão intenso, rico em detalhes e tão profundo. Estou surpreendida, acho que sou eu quem deve tomar um calmante aqui! Parabéns, a história é excelente, retrata muito bem a triste realidade de uma pessoa com esse tipo de transtorno.

Postado 03/09/16 15:54

Fico feliz que tenha gostado, Mimi <3

Obrigada, minha linda!

Postado 02/09/16 19:48

Acho que capturou bem a essência do tema e utilizou bem o tema que você escolheu. Parabéns, Sabrina TTT!

Boa sorte no desafio! :D

Postado 03/09/16 15:55

Obrigada, Joy! <333

Boa sorte para tu também c:

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