De novo, fui buscada da loja de flores, custei um preço relativamente bom, quase de graça.
Acho que é por que a compradora vem sempre aqui, lá vem ela, deu até um lacinho para segurar meus caules.
Entrei no carro com ela, que cara séria ela tinha. Parecia quase triste por algum motivo, vejo uma foto pequenininha grudada no vidro, no cantinho, quem era aquela garotinha?
Paramos na frente de um cemitério, que atmosfera sombria! As estatuas de santos me assustavam, que passeio medonho.
Okay, para uma flor sensivel, confesso que o comentário não foi sensivel da minha parte.
Eu sabia para que eu serviria, e tudo bem, considerava uma honra apodrecer diante de um tumulo, até por que minha alma, pelo que dizem as lendas, iria vagar pelo paraiso á procura da pessoa para quem a flor foi dada.
Vi ela se ajoelhar no chão cheio de pedrinhas, aquilo deveria machucar os joelhos.
_ Feliz aniversário Angela, filha querida _ sussurrou, deixando-me perto do tumulo, era de uma criança, nascida em 2001, e partiu em 2005.
Pouca vida, pobrezinha.
_ Queria ter impedido aquele carro, você sabe, não é? _ a moça disse, com lagrima nos olhos _ Queria mesmo.
Droga, a menina morreu tragicamente, me sinto uma flor má por ter caçoado antes.
Eu iria para as mãos de uma criatura tão doce, eu deveria agradecer, se é que posso.
_ Você gostava tanto das Astromélias do nosso jardim _ ela disse _ Não sobrou nenhuma viva desde que se foi, minha covardia não deixou rega-las, toda vez que tentava, a unica coisa que ia para a terra, eram minhas lágrimas.
O silencio, a garotinha enxugaria os olhos de sua mãe se pudesse?
Me senti querida por um segundo, quando ela me agarrou pela ultima vez, me beijou com seus lábios nus, sem batom, e me colocou de novo.
_ Em seu epitáfio diz que tu seria eterna em meu coração
mas daria tudo para que se tornasse mortal ao meu lado. _ ela disse por ultimo, antes de partir.
Eu faria de tudo, se minha alma for real, para alegrar o coração da Angela, a menina que partiu.
Seria a Astromélia querida dela.
Sua.