As almas que não estavam destinadas a ficar juntas
Meiling Yukari
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 29/07/20 21:37
Avaliação: 9.07
Tempo de Leitura: 5min a 7min
Apreciadores: 8
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Palavras: 942
Este texto foi escrito para o concurso "2ª Edição - Concurso de Contos – Profecia " A ideia do concurso, como sua primeira edição, é a produção de contos que, dessa vez, tenham o tema da profetização. Então, digo: “Vamos prever o futuro e toda a consequência desse ato!” Ver mais sobre o concurso!
Não recomendado para menores de dezesseis anos
Notas de Cabeçalho

Olá, depois um longo tempo aqui estou eu, de volta ao lar.

Para iniciar minha volta resolvi participar deste concurso, que tem esse tema tão legal da profecia!!!

Espero que gostem * - *

Capítulo Único As almas que não estavam destinadas a ficar juntas

Aquelas almas não estavam destinadas a ficar juntas. Simples assim.

Esse era o mal do ser humano, ficar forçando as coisas que não foram profetizadas em seu destino para acontecer. A tentativa de mudança sempre acabaria falha...

Eram os anos 60, Marina era uma menina de 14 anos quando o viu pela primeira vez. Foi depois de um acidente, ela atravessou a rua sem olhar e o carro quase a matou. Ficou internada por meses no hospital, sua família era muito ocupada, por isso quase não a visitava. Ficaria sozinha, se não fosse por um menino, que ia vê-la todos os dias.

Ele era muito misterioso, sentava-se ao lado de sua cama e apenas sorria, sem falar uma única palavra. Os dias e as semanas foram passando, e a cada dia o menino se aproximava mais. Pegava em sua mão, lhe fazia carinho, e sorria gentilmente.

Diante de tanta compaixão, Marina foi pouco a pouco se apaixonando por esse menino de quem nunca havia ouvido a voz. E então, mesmo sem receber respostas, fazia longos discursos, contava sobre suas coisas favoritas, suas alegrias e sobre suas tristezas e angústias.

Depois que saiu do hospital, o menino ia visitá-la em sua casa, quando os pais não estavam. Mas ele continuava sem falar, e quanto mais o tempo passava, mais ele mantinha distância corporal.

Estavam apaixonados, e Marina não entendia essa reação dele, de nunca aproximar o corpo do dela. Nem mesmo seu nome ele havia lhe contado, apenas escreveu que se chamava Fer, e nenhum detalhe a mais.

Fer era uma pessoa que já nasceu rodeada por espíritos, que desde criança deram-lhe visões de suas vidas passadas. E por esse motivo Fer se tornou uma criança triste, atormentada por suas desolações em outras vidas.

Aquela menina, Marina, era seu maior motivo de tormenta e angústia. E o que mais atormentava Fer, era o fato de que mesmo agora, não poderia ser feliz com Marina.

**********

Se passaram anos, até que um dia os pais de Marina descobriram as visitas do menino. Foi um alvoroço horrível, o pai bateu no menino até quase o matar. Para logo em seguida partir para cima de sua própria filha, gritando que não aceitaria filha desonrada em casa.

Fer não acreditava na brutalidade do homem. E para defender sua amada Marina, finalmente, depois de tantos anos, abriu a boca para gritar, e contar a todos o seu segredo.

Fer se chamava Fernanda, era uma menina.

Todos ali presentes entraram em choque, a mãe correu socorrer Fernanda, e brigou com o marido que havia batido daquela forma horrível em uma simples menina que era apenas amiga de sua filha.

Fernanda foi para o hospital. E Marina então foi visitá-la todos os dias. Pouco a pouco, dia após dia, Fernanda, mesmo ainda fraca, ia contando sua história.

Contou que suas almas já habitaram diversos corpos, masculinos e femininos, mas que em todas as vidas em que tentaram ficar juntas, ocorreram tragédias e sofrimentos para impedir o amor.

Marina se emocionava muito com toda a carga emocional, e prometeu a Fernanda que não importava como, elas iriam ficar juntas, pois o fato de ambas serem meninas não mudava em nada o amor que sentiam.

**********

Partilharam momentos felizes, trocaram beijos apaixonados, se abraçaram muito, e se entregaram uma a outra em momentos de amor. Mas tudo sempre escondido, fugindo e se escondendo de um mundo que as chamaria de aberrações.

Elas não sabiam que antes da tormenta, é que vem a calmaria. Pois nunca se pode fugir do destino. Cada alma tem seu destino profetizado, e não é possível fugir disso. Aquelas duas tristes almas não estavam destinadas a ficar juntas. E a felicidade das moças apaixonadas durou muito pouco, na verdade alguns anos, mas muito pouco comparado com toda a vida que elas poderiam ter tido juntas. Claro, se suas almas fossem destinadas, e se fossem outros tempos, para elas poderem mostrar seu amor ao mundo, sem julgamentos e preconceitos.

Quando a mãe de Marina chegou de surpresa em certo dia, pegou as duas jovens mulheres se beijando luxuriosamente, enroladas na cama, gemendo com o prazer. A mulher entrou em choque e desespero, fez um escarcéu e começou a quebrar tudo.

Disse coisas horríveis, que devia ter deixado o marido a matar quando teve a oportunidade anos atrás. Mas que agora ela não iria suportar a vergonha de uma filha que fazia atos tão asquerosos.

Pegou enfeites de vidro de cima da prateleira e começou a jogar nelas, ensandecida. Gritava que Deus jamais iria perdoar esse tipo de atrocidade, e que as duas iriam queimar no inferno.

Elas tentaram se defender, mas a mãe tinha a força do ódio, implantada por uma sociedade homofóbica. Quando ela tentou acertar Marina com um caco de vidro, Fernanda se entrepôs e a luta corpórea a levou junto com a mãe até a sacada do quarto, no décimo andar, de onde caíram e morreram.

Marina gritou até sua voz não sair mais, e chorou até não conseguir mais produzir lágrimas. Ela não conseguia suportar a ideia de que o destino tinha que ser assim. Inocente, sem entender que suas almas nunca poderiam encontrar felicidade juntas, pois não estavam destinadas uma a outra na profecia da vida, ela pensou ingenuamente que definitivamente iria encontrar um modo de amar Fernanda.

Pensou que ela definitivamente iria encontrar a sua amada novamente, não importando se fosse no corpo de homem ou mulher, Marina ia encontrá-la na próxima vida e amá-la. E foi com esse pensamento que, com o caco de vidro, cortou profundamente seu pulso, se jogando da sacada logo em seguida, para morrer no solo ao lado de Fernanda.

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Apreciadores (8)
Comentários (7)
Comentário Favorito
Postado 30/07/20 23:02

Deuses... o impacto desse texto me deixou sem palavras. Tanto o tema, como o desfecho da trama em si me abalaram, mas principalmente essa parte final, que deixou meu coração em milhões de pedaços de vidro. Existe vida depois dessa leitura? Não estou encontrando...

A sua capacidade descritiva e de conectar os fatos é extraordinária. O leitor se afoga no texto, nos sentimentos e nas situações vividas pelas personagens. Por isso que, no final, permanece a sensação de vazio, pois você nos faz criar laços com essas personas e depois nos mata junto com elas, rs.

Obrigada por compartilhar esse texto magnífico conosco. Muita boa sorte no concurso! Te admiro, mas isso você já sabe ♥

Carinhosamente,

Sabrina Ternura.

Postado 31/07/20 14:24

Muito obrigada por suas palavras tão bonitas e gentis sobre meu texto!!

Eu me sinto feliz demais em ter conseguido causar esse efeito de se apegar aos personagens e sofrer uma queda brutal com o final, rs.

Mil vezes obrigada, de coração!! Saiba que essa admiração é totalmente recíproca ♥

Abraços!!!

Postado 02/08/20 20:52

Como eu estava com saudade de ler seus textos. E, minha nossa! Que texto! Que grandioso texto.

As pessoas, independente do motivo, sempre tendem a ir contra o destino. É incrível isso. Ta, algumas pode ir por não saberem exatamente que estão indo, mas outras, como foi o caso aqui, vão apenas para tentar provar que são superiores... ou algo desse tipo, sei lá, acho que fiquei tão empolgada que estou viajando.

Enfim, parabéns e boa sorte!! <3

Postado 02/08/20 23:17

Senhorita Flavinha!!! <3

Que felicidade ter você aqui lendo meu texto <3

Muitíssimo obrigada pelo enorme elogio!!!!

Te acompanho plenamente na sua viagem, também vejo as coisas desse modo que você falou, as vezes as pessoas insistem demais em algo que já dá pra ver que não vai dar certo... Isso é bem triste (principalmente no caso da pessoa não perceber)(mas também triste na pessoa que quer provar ser superior, porque ela também está fadada a se dar mal nessa tentativa)...

Quem viajou fui eu agora hahahahaha

Muito obrigada novamente, e um grande abraço!!! * - *

Postado 02/08/20 23:48

Postado 08/08/20 12:03

Gostei bastante desse suspense, o segredo me pegou bem de surpresa mesmo, vc tratou de um assunto delicado, que foi bem abordado, e é tão triste que podia ter tido o mesmo fim ainda hoje em dia... Que as pessoas são tão preconceituosas ainda, muito triste mesmo, mas eu adorei o jeito que vc escreveu a história *_*

Postado 08/08/20 21:49

Muito obrigada, senhorita!!!

Seu comentário me trouxe muita alegria!!

Triste mesmo é pensar que nossa sociedade ainda é tão preconceituosa...

Muitos abraços!! <3

Postado 08/08/20 17:58

Fico espantando com os detalhes, srta mei. Mas ainda mais impressionante são as sensasões de uma socidade real e preconceituosa

Postado 08/08/20 21:52

Senhor Akuma!!

Quanta felicidade seu comentário me trouxe!!

Fico muito agradecida que você apreciou os detalhes do que eu escrevi <3

Infelizmente a sociedade é preconceituosa até hoje, e sem muitas perspectivas de mudança...

Um grande abraço!!!

Postado 08/08/20 22:47

Sua escrita é realmente envolvente e consistente, digna de ser apreciada.

E agradeço a ideia para a novelizaçao... ela será bem... diferente...

Postado 14/08/20 20:16

Trazer uma parte do texto e indicar o leitor que aquele trecho vai estar na história cria muitas expectativas diante da questão “como vai ser encachado na obra?”, uma ótima ideia. E tem mais esse parágrafo em especial é o mais marcante, pois ao chegar nele o leitor sente um arrepio de ódio e tristeza – mesmo o narrador e/ou título tendo preparado todos para esse desfecho.

Sua obra passasse nos anos de 60, mas não deixa – para a tristeza de todos – de ser ainda atual.

Adorei cada surpresa e parte mística que trouxe em sua obra, sinto que me apaixonei pelo casal como pela parte que fala “não importava como, elas iriam ficar juntas, pois o fato de ambas serem meninas não mudava em nada o amor que sentiam”, já que no final o amor não enxerga gênero mas almas, adorei!

Obrigado por dar-me essa experiencia maravilhosa, compartilhar sua obra e participar do concurso.

Visite a página do concurso mais tarde e veja o resultado.

Assinado uma pequena vampira, <3

Postado 15/08/20 19:53

Aaaaaaaa senhorita Shizu!!!

Muito obrigada por suas palavras!! <3

Fiquei imensamente feliz por seu feedback tão posito e maravilhoso acerca do que eu escrevi aqui!!

Muito obrigada mesmo!!

Um grande abraço <3

Postado 15/08/20 22:39

Ah, adorei a ideia pro concurso e achei o texto muito gostoso de ser lido. Parabéns!

Queria só dar um conselho. Essa é uma história com potencial de ser mais detalhada, mais estendida. Achei que alguns fatos aconteceram repentinamente e que alguns parágrafo poderiam estar melhor posicionados.

No mais, parabéns! Sucesso e dedicação!

Postado 16/08/20 16:54

Chico, que grata surpresa o seu comentário!!

Suas palavras me deixam muito feliz, agradeço pela parte de elogios, e também pela parte de conselhos!

Infelizmente pela limitação de palavras do concurso eu não consegui dar o desenvolvimento necessário... Mas quem sabe um dia eu reescreva em uma história mais longa!

Muito obrigada!! Um abraço <3

Postado 16/08/20 19:04

De nada.

Pelo que andei estudando ultimamente, é impressionante como a gente pode dizer um monte com poucas palavras. Então, as vezes, uma revisão um pouco mais crítica consegue suprimir algumas palavras e possibilita que novas ideias possam ser abordadas. Mas, as vezes, não tem jeito mesmo; o limite de palavras complica mesmo.

Postado 14/02/21 03:37 Editado 14/02/21 03:40

Para minha eterna vergonha, não nego que antigamente fiz parte da parcela homofóbica e preconceituosa da sociedade (e a Jovem Poder terá para sempre minha gratidão por ter arrancado minhas pálpebras nesta questão).

Porque, Satã, parece ser tão impossível um número ainda exorbitante de pessoas ao redor deste mundo (independente da geração ao qual pertençam) enxergar e reconhecer que, antes de alguém ser homem, mulher, transgênero ou afins, ela é um bendito ser humano e que seus sentimentos uns pelos outros transcendem e muito características como gênero? E porque, em nome do Inferno, a orientação sexual de uma pessoa tende a/pode vir a incomodar alguém/alguns/todos ao seu redor?

Bom, revoltas à parte, ainda há uma questão muito, muito triste abordada nesta grandiosa obra: o fato daquelas duas almas estarem destinadas a nunca poderem ficar juntas não só naquela vida, mas nas que vieram antes e, talvez/provavelmente, em quaisquer outras vindas depois... Eu só queria saber e entender o motivo de tamanha crueldade cíclica, pois me recuso a acreditar que uma relação e união com esse nível de profundidade seja eternamente fadado a ser como duas linhas paralelas, que por mais próximas que estejam, jamais se cruzarão de fato...

Esse texto magistral me foi tão tétrico que nem consigo comentar nada além, pois uma sensação de desesperança e tristeza imensas destruíram a mim e a minha capacidade de raciocinar a partir da constatação de que talvez...

Talvez... Tenha sido/seja disso que se trata, no final das conta...

Perdoe-me por não conseguir parabenizá-la por esta obra, Srta Meiling... Não que eu esteja fazendo isso pelo fato de que não mereça, pois indiscutivelmente a senhorita o merece com louvor. É que apenas me ocorreu uma epifania que me demoveu todo o entusiasmo ou mesmo lógica agora...

Atenciosamente,

um ser sentindo-se com Fer (incapaz de falar ou agir, além de estar considerando uma hipótese triste e sombria), Diablair.

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