Seu Nome
True Diablair
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 31/10/21 08:53
Editado: 31/10/21 09:06
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 4min a 6min
Apreciadores: 3
Comentários: 3
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Palavras: 738
[Texto Divulgado] "Cinzas no Deserto" Uma história baseada em algumas histórias baseadas em histórias que tanto amamos, de coração. Bora ler.
Não recomendado para menores de dez anos
Notas de Cabeçalho

Incrível (e/ou irônico) como quase ser assassinado pode desbloquear não só sua mente, mas igualmente seu coração...

Texto não revisado

Música-Tema: FFVI Terra Theme Piano Version:

https://youtu.be/338clo2NOLI

Dedicado a todos que estiveram comigo em meus momentos mais sombrios pois 2021 está conseguindo ser, desde o primeiro mês, um dos mais difíceis e dolorosos anos de toda a minha jornada.

Imensa gratidão ao Universo por suas existências e persistência na minha vida

Capítulo Único Seu Nome

Eu estava na Escuridão (ainda/de novo) quando me deparei com aquilo a poucos passos de mim. A princípio, parecia mais um amontoado de trapos imundos que de algum modo conseguia se destacar mesmo tão mergulhado em trevas como estávamos, mas pude distinguir uma silhueta humanóide em meio a todos aqueles andrajos. De imediato, um forte e inexplicável repúdio tomou conta de mim ao me dar conta daquela presença e tal sensação só fazia se intensificar conforme o tempo lentamente passava.

A forte impressão que aquilo passava era de ser algo desprezível, uma coisa sem valor descartada após perder sua utilidade, tal qual uma fralda geriátrica ou um saco de vômito após o uso; muito provavelmente sequer deveria de fato ter existido, para começo de conversa; sim, era isso e muito mais que vinha em meu pensamento e, sem que eu desse por mim, comecei a xingar aquela coisa ali sentada, trêmula e encolhida em um escárnio de abraço em si mesma. A súbita tentativa de extravassar não adiantou: o ranço se converteu em violência física e após as agressões gratuitas e inclementes, me vi enforcando aquele corpo fétido recoberto por andrajos, que se debatia fracamente, praticamente entregue aos caprichos coléricos de quem lhe removia o ar e a vida.

Foi então que, no auge do desatino, pude enxergar os olhos de minha vítima, mesmo por baixo de toda aquela sujeira e hematomas. Havia beleza, súplica e lágrimas naquele olhar, o que me fez afrouxar o aperto tenaz de meus dedos o suficiente para que eu pudesse ouvir uma única (ou talvez última) pergunta imersa na mais genuína tristeza: "por quê me odeita tanto...?"

Meu coração disparou como talvez nunca o tivesse feito antes. Eu conhecia aquela voz. Sem entender nada e ainda asfixiando a figura imunda, perguntei o quê ela era, ao passo que, quase sem forças ou fôlego, a frase "O quê não... Quem. Eu... Sou Anônimo(a).

O sufocamento parou. O tempo também. Aquele era meu nome. Aquela era minha voz. Aquela coisa perante mim, tão suja, ferida, fragilizada e quase destruída tinha o mesmo nome que eu. Não, mais que isso: ERA eu. Como? Como era possível?!

Anônimo(a) se aproximou de mim e, com as mãos lânguidas em meu rosto, moveu os lábios de modo a projetar sua voz não somente aos meus ouvidos, mas principalmente ao meu coração:

Eu sei que as coisas tem sido ou são muito difíceis, às vezes até mesmo cruéis.

Eu sei que que você tem dúvidas, medos e arrependimentos.

Eu sei o quanto seus fracassos e omissões custaram e ainda vão custar.

Eu sei porque eu estive lá o tempo inteiro.

Então, Anônimo(a), mesmo que alguém, alguns ou até mesmo todos os outros te julguem ou condenem,

Te traiam ou decepcionem,

Te machuquem ou humilhem,

Te desprezem ou abandonem,

Cuspam nos seus esforços,

Defequem no seu sofrimento,

Ou simplesmente ignorem ou rejeitem por completo sua existência,

Eu sempre estive e sempre estarei com você.

Então eu te peço... Eu te imploro...

Por favor, me perdoe

Por favor, me aceite

Por favor, me ajude

Por favor... Me ame...

E assim Anônimo(a), com toda a dificuldade e emoção do mundo, me abraçou em um pranto silencioso, todavia potente que me fez estremecer e marejar os olhos sem que, em um primeiro momento, eu sequer conseguisse reagir. Mas então eu ouvi sua (ou seria minha? Talvez a nossa...) voz sussurrar na medida em que eu fechava meus olhos em uma tentativa de não me render igualmente ao choro:

Eu sei o peso do que estou te pedindo... Mas, se fizer isso com o tempo, não prometo que tudo vai acabar bem, mas prometo que você vai conseguir ir muito mais longe e mais alto... E talvez, com muita sorte e muito esforço... Seja muito, muito feliz um dia... Não hoje, nem em breve, mas um dia... E eu também quero e vou estar lá com você.

E também por você...

Quando abri o olhar marejado, percebi que era eu quem estava no chão, na imundície e com o corpo maltratado, ferido e em vestes maltrapilhas, abraçando-me com uma força e um carinho que sequer julguei que existiam (ou pudessem de fato existir) em mim.

A escuridão ainda me rodeava. Porém...

Eu me levantei.

Eu me limpei.

Eu me abracei.

E por fim eu chorei, mas desta vez de felicidade, pois depois de toda a solidão, desprezo, desilusão e sofrimento...

Finalmente eu me encontrei.

❖❖❖
Notas de Rodapé

O olhar marejado ao postar coroa a obra...

Que cada pessoa que porventura ler também tenha de encontrado/possa se encontrar.

Gratíssimo pela leitura e por quaisquer reviews.

Apreciadores (3)
Comentários (3)
Comentário Favorito
Postado 05/11/21 21:21

Não sei se um dia serei capaz de colocar em palavras os sentimentos que me invadiram ao ler essa obra, tendo em vista, principalmente, que algumas coisas dela possuem um significado oculto que conheço bem...

Como sempre, o texto está bem escrito. A sua capacidade de inserir o corpo, a alma e os ossos do leitor na obra, a deixa ainda mais impactante. Contudo, a ferramenta que você usou para colocar o nome... Cara! Isso dá uma profundidade inexplicável para a obra. Sempre vi o nosso nome como algo poderoso e isso foi extremamente potencializado na narrativa. Eu me vi em muitas dessas linhas e seria impossível não me ver, afinal, você descreveu muito bem o cerne da alma humana.

Manu, existem muitas coisas que eu gostaria de dizer, mas as lágrimas dos meus olhos já estão ameaçando a cair... Ainda assim, quero te agradecer por compartilhar conosco essa obra de magnitude esplendorosa e sensível. Obrigada por ter adentrado a minha alma.

Meus infinitos parabéns (tanto pela obra, quanto por muitas outras coisas). Eu tenho um orgulho imenso de você, Manu! ​♥

Postado 16/06/22 21:56

Você sabe, não é mesmo, preciosa soBrina?

Você sabe...

Sou eu quem não tenho palavras para lhe agradecer não somente por ler e comentar esta obra (e tantas outras mais), mas por sempre me apoiar nãp só aqui no site, mas principalmente fora dele.

Muito obrigado mesmo, Brina. De todo o meu coração...

Postado 10/02/22 19:13

Essa obra me foi real e simplesmente bonita. Não no sentido de algo arrumadinho, mas no mesmo sentido daquelas histórias antigas, que nos invadem de um jeito que nem da pra saber direito o que estamos sentindo mais, e simplesmente transborda. Já esperava os acontecimentos seguintes quando a figura foi descrita, mas não foi menos tocante por isso.

Mas admito que me assustei com meu próprio nome UAHUAH deu um toque abismal. Enfim, agradeço por compartilhar a obra! Sei que ainda não li muito, mas já posso dizer que amo sua forma de escrever.

~Kusa

Postado 16/06/22 22:03

Este foi, sem dúvida alguma, um dos comentários mais gratificantes que já recebi neste site! Fico deveras honrado que sua leitura lhe tenha sido tão bonita ao ponto de me enviar este precioso feedback, Sr Kusa!

Postado 09/03/24 00:44

bom, primeiramente quase denunciei você.... por ter achado que usou meu heterônimo sem permissão rsrs... Apenas lendo os comentários que eu entendi. Belo poema, mostrando a necessidade de amor próprio e quantas vezes nós mesmos nos machucamos. Belo texto e no começo realmente achei que era algo ao meu heterônimo.