Fragmentos
Vanessa Souto
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 30/05/18 21:43
Editado: 31/05/18 02:13
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 5min a 7min
Apreciadores: 2
Comentários: 2
Total de Visualizações: 850
Usuários que Visualizaram: 8
Palavras: 909
[Texto Divulgado] ""
Livre para todos os públicos
Capítulo Único Fragmentos

Nove no auge da curiosidade adorava explorar, uma vez utilizando uma lupa para observar as formigas do seu quintal de perto notou varias delas se juntarem para carregar o corpo desfalecido de uma de suas companheiras, então decidiu construí-las um pequeno cemitério com gravetos e buracos na terra. Nove não gostou quando elas ignoram sua oferta concebida com tanto esmero.

Nove também tinha sonhos com uma divindade holográfica conhecida por ela como Deus, nos sonhos eles tinham diálogos animados dos quais ela nunca se lembrara ao acordar. Pintava quadros em caixas de pizza engorduradas e saia exibindo suas obras de arte na rua, ficou muito feliz quando uma senhora simpática lhe deu 25 centavos pela obra, dinheiro esse que lhe rendeu muitas balas.

Já Onze era comunicativa, gostava de agradar pessoas á sua volta, juntava moedinhas durante meses para presentear sua mãe com blusas e batons, e seu pai com desodorantes e loções de barbear. Quando sua mãe saia Onze a surpreendia ao voltar e se deparar com a casa arrumada e a louça lavada, Onze adorava os sorrisos e elogios que recebia como pagamento pelo trabalho.

Onze também adorava expressões surpreendidas nas pessoas, uma vez sua tia exclamou surpresa pela velocidade em que ela deu a volta na casa então onze passou a dar varias voltas correndo, entrando pela cozinha de sua casa passando pela sala, seguindo o corredor ao escritório de seu pai até atingir o quintal e voltar a aparecer na cozinha, Onze percorreu esse caminho varias vezes esperando a expressão surpresa da senhora sua tia que parou de aparecer após a segunda volta.

E então o mundo de onze em toda a sua inocência começou a mudar.

Onze sentiu na pele o desespero do pesadelo no qual é perseguida, mas devido a paralisia não consegue se mexer, Onze tentava correr, tentava se mover mas não conseguia, pode sentir o desespero percorrer cada célula de seu corpo.

Quatorze era uma garota anti-social, repudiava ser notada tinha apenas duas fieis amigas, tirava notas boas na escola e usava roupas largas, fazia longas caminhadas pois preferia evitar as ruas movimentadas embora fossem o caminho mais curto e sempre atravessava a rua quando notava um grupo de pessoas mais a frente no caminho, Quatorze então encontrou uma terceira amiga, um dia ao sair da aula de natação encontrou a garota parada nas escadas da escola, a garota desesperada por contato seguiu Quatorze até sua casa, Quatorze não dava espaço pra pessoas novas na sua vida, mas a garota intrometida não se deixou ser afastada.

Enquanto isso Quatorze também começou a perceber que seus pais não eram os heróis invencíveis que pensava, porém Quatorze não achava que estava pronta pra crescer e dividir o fardo com eles.

Pela sua nova terceira amiga Quatorze então foi apresentada a garotos e teve seu primeiro beijo, porém a terceira amiga também lhe apresentou a falsidade e a outros males da sociedade. Quatorze ainda com resquícios de inocência deixou as águas salgadas tomarem conta de seu rostos ela não entendia como alguém tão querida por ela podia magoá-la, Quatorze então entendeu que só quem nós é querido tem esse poder.

E seu mundo foi manchado.

Dezesseis gostava de sair, passava mais tempo na rua do que em casa. Dezesseis foi apresentada as bebidas e ao sexo, beber lhe proporcionava uma fuga da realidade, além de torná-la na espontânea e comunicativa garota que ela não sabia ser. Dezesseis era popular, tinha um grupo bem extenso de colegas, atenção dos garotos e sempre era convidada para as festas. Dezesseis eventualmente começou a sentir o frio solitário da sua vida, mesmo estando rodeada de pessoas ela se encontrou sozinha em sua mente, ela não era realmente amada nem querida. Dezesseis descobriu que a maioria das pessoas só te considera quanto tem algo que você as pode oferecer.

Dezoito era solitária e se sentia vazia, ela era extremamente sensível e tinha uma visão romantizada do mundo portanto quando se chocava com a realidade era sempre muito difícil se recuperar, Dezoito apesar de adorar viajar, de tantas viagens físicas e mentais, se encontrou totalmente perdida sem saber seu lugar.

Vinte decidiu em sua casa se trancar, e por um ano se cercou de livros, series e filmes tentando curar a sua alma ferida. Vinte não arriscava nem ao menos ir à padaria duas ruas a baixo da sua. Até que em seu casulo Vinte sentiu que estava na hora de voar então seguiu o conselho de sua amiga e decidiu de cidade se mudar. Mas nessa mudança Vinte logo percebeu que a cidade que lhe era tão querida todo encanto perdeu, Vinte se deu conta que a beleza estava nos olhos de quem via e a mudança positiva teria que ser dela e não do lugar, Vinte então decidiu voltar e se esforçar, voltar e enfrentar.

Vinte-Dois queria fazer coisas grandes, tinha grandes sonhos a realizar, apesar de muitas vezes ser comparada com o inverno pela sua frieza exterior aprendeu a se comunicar, Vinte-Dois se deu conta que ainda tinha fragmentos das varias garotas dormentes dentro de si então aos poucos passou a recuperar alguns traços delas, os resquícios delas que mais gostava, Vinte dois aprendeu a conciliar todas as garotas a se tornarem uma só e Vinte Dois colou todos os fragmentos dentro de si com muito carinho e apreço pela pessoa que elas a fizeram ser, fragmentos esses que a tornaram completa.

E assim Vinte-Dois as libertou.

❖❖❖
Apreciadores (2)
Comentários (2)
Postado 05/06/18 22:46

As idades e suas fases são fascinantes como as fases da Lua. Elas mudam, às vezes voltam, mas sempre nos ensinam. Chega um ponto da vida que o passado precisa se romper com o presente, pois não há espaço para o pretérito quando o vigente transborda maturidade e sensatez.

O mundo é cruel, mas nós não temos ossos de vidro e podemos suportar os baques da vida (aquele famoso ensinamento do filme Amélie Poulain). As idades passam, assim como o tempo, mas os ensinamentos de cada fase permanecem.

Sua criatividade em introduzir as idades como personagens me deixaram maravilhada. Teu talento tanto na escrita, quanto na mensagem por trás das palavras é visível e fico muito contente por ler uma obra desta magnitude.

Meus parabéns! <3

Postado 06/06/18 01:42

Sim, estamos sempre nos refazendo, nos moldando de acordo com os ensinamentos das experiencias que vivemos. E querendo ou não até as más experiencias nos ensinam coisas, o melhor que podemos fazer é tirar proveito disso.

O seu entendimento da obra me encanta assim como é gratificante!

Nem consigo uma palavra exata para descrever a alegria que as suas palavras me deram hahaha

Estou muito grata novamente ♥

Obs: amo Amelie Poulain e guardo com carinho as lições desse filme ♥

Postado 08/06/18 01:57

O mundo por vezes pode ser um lugar imundo e cruel, assim como as pessoas que nele habitam e cercam umas às outras. A vida por vezes pode ser injusta, até mesmo cruel, lacerando corpo, mente e alma com a mesma facilidade e voracidade que um moedor de carnes. E tudo nos leva (quiçá, empurra com violência e sem misericórdia) para dois caminhos: a superação ou a destruição.

Me foi muito interessante acompanhar a trajetória de todas essas personas que o eu-lírico era/é, com todas as falhas e méritos as mudando conforme o tempo passou. E no "fim" (na verdade, o atual estado), a fragmentação se converteu em evolução. Tudo isso narrado de uma forma sublime e de qualidade indiscutível. É algo que mistura de modo cálido a tristeza e a beleza de uma existência ainda em aberto.

Para o bem ou para o mal.

Muito bom trabalho, Srta Souto! Tem se provado uma autora de sensibilidade, criatividade e habilidade a cada obra postada! Parabéns!

Atenciosamente,

Um ser 666, Diablair.

Outras obras de Vanessa Souto

Outras obras do gênero Cotidiano

Outras obras do gênero Crônica

Outras obras do gênero Drama

Outras obras do gênero Reflexivo