Todos olhavam para baixo, em silêncio, constrangidos com todo aquele alvoroço, sua morte trouxe um misto de alegria, alívio, revolta para aqueles que queriam vingança e punição exemplar... Eram pessoas de todas as épocas de sua vida.
Entretanto, lembrava-se de cada uma delas, eram garotas, velhas, homens, rapazes, viúvas, pessoas idosas, mulheres de meia idade... Enfim, todas pessoas que ele ludibriara ao longo da sua torpe existência...
Estava no fundo do buraco, seu esquife era transparente como o vidro, mas ao invés de terra eram lançados sobre ele todos os impropérios que ele havia cometido e toda a dor e sofrimento experimentado por cada uma de suas vítimas.
Fora sagáz, era bem verdade, aproveitara-se da bondade e inocência para trair, extorquir e roubar das piores maneiras imaginadas, inclusive as vidas.
Cada lágrima derramada sobre o esquife, parecia se transformar em ácido que o corroía, sem contudo ter o poder de aniquilá-lo e cada maldição sobre seu nome era combustível para o fogo do inferno.
Olhava aquelas pessoas, cada uma delas, era um ser incapaz de sentir tristeza ou remorso pelos outros, seu único lamento foi ter sido pego antes de aproveitar mais.
De repente seu esquife foi aquecendo, o ar ficando impossível de respirar, ele sem condições de sair, por mais que chutasse o vidro era impossível quebrar e impossível também abrir a tampa.
Num instante lá estavam suas vítimas se revezando, pulando sobre o esquife de vidro, dançavam sobre ele, riam, zombavam, cuspiam no seu rosto e ele imóvel. Queria gritar, xingar, protestar, impossível, sua garganta estava seca, seus pulmões sem ar...
Depois suas vítimas sumiam, aí ele visualizou claramente sua mulher, sua amante, sua ficante e um outro caso conversando entre si, rindo e zombando do quanto ele era ruim de cama, que seu membro era pequeno e que fingiam gozar por dó! Ele ficou vermelho de ódio, mataria todas elas, como ousavam?
Sentiu um frio nos países baixos e pasmado, se viu nu e todos com lentes de aumento, riam e apontavam para seu ínfimo membro.
NÃO!!!
Preferia ser esquartejado! Gritava e se debatia sem sucesso...
_Ok! Seu desejo é uma ordem! - disse um enorme demônio segurando seu queixo.
Tudo tinha desaparecido, ele estava parado, petrificado!
_Espero que o senhor W tenha apreciado a coisinha especial que preparamos como boas vindas ao seu primeiro dia no purgatório... Amanhã atenderemos ao seu pedido com um toque especial do Belzebu. Curta sua estada Sr W!
E o pesadelo se materializou novamente pela 80a vez no seu primeiro dia pós-morte.