Ramificações de um Poeta (Terminado)
Lobo Negro Johny
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Tipo: Romance ou Novela
Postado: 10/01/24 03:39
Editado: 07/04/24 14:51
Qtd. de Capítulos: 9
Cap. Postado: 17/01/24 02:26
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 34min a 45min
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[Texto Divulgado] "Cinzas no Deserto" Uma história baseada em algumas histórias baseadas em histórias que tanto amamos, de coração. Bora ler.
Não recomendado para menores de doze anos
Ramificações de um Poeta
Capítulo 2 Ato II

Ato II I

O dia era completamente limpo, sem nenhuma nuvem no céu, ou algum calor, temperatura perfeita, e Elliot e Alcides chegaram no apartamento, não viram muitos vizinhos, subiram ao quinto andar, apenas dois apartamentos tirando o deles, entraram e era um espaço grande, a cozinha era separada por uma bancada, 3 quartos e um banheiro. Não havia televisão, apenas o sofá, estantes, duas escrivaninhas, os quartos ambos tinham camas de casais, não havia muito o que fazer, nem muito o que arrumas, tinham poucas roupas, e não estavam acostumados a vestir outra coisa sem ser o uniforme do orfanato. Elliot vestiu uma camisa polo preta, e caça jeans e sapa tênis, Alcides já usou bermuda vermelha, e uma camisa com algo de skate estampado. Um entreolhou o outro estranhando o estilo de vestimentas, e ambos desgostaram, mas deram risada logo depois:

— E então, para onde vai jovem adulto de 45 anos? — Zombou Alcides.

— Vou encontrar Thalia, e conhecer a cidade, quem sabe fazer meu currículo, afinal quero trabalhar, e você? Vai fumar alguma droga, ou só traficar mesmo?

— Engraçado, vou sair com meus amigos da cidade, deveria vir, ou já vai escrever versos para Thalia?

— Ela é minha amiga. — Respondeu soltando um ar de desgosto. — E ela me disse haver um grupo de poesias na cidade, eu pretendo aparecer hoje á noite, quer vir?

— Poesia é sua praia, a minha é sei lá, mas eu sei escrever, mas não tenho gosto por isso, embora eu tenha conseguido alguns romances.... — Ele dava uma risada se gabando, seu amigo apenas olhava seriamente sem devolver graça alguma. — Não é para mim ok, e é brincadeira tá bom, eu gostava das meninas, mas elas não queriam saber de alguém que morava afastado da cidade e só aparecia nas férias. — Elliot acreditava em seu amigo, mesmo que não gostasse das piadas dele.

— Eu entendo, apenas tome cuidado para não ser um mero objeto e não fazer das mulheres objetos.

— Entendi, cuide-se e logo comprarei uma televisão para a gente, com um pouco do dinheiro que sobrou desse mês que o orfanato nos enviou.

— Está bem, mas procure um emprego também, e cuide-se com seus amigos, vou indo.

Os amigos se cumprimentaram, e Elliot saiu do apartamento, pegou o elevador e ao sair do prédio, Thalia estava lá, esperando-o, uma blusa da Marvel, cabelo amarrado e jogado para o lado esquerdo, ouvindo música e batendo os pés no ritmo. Ele saiu e a admirou, ela parou de olhar o celular e sorriu ao vê-lo:

— Adorei sua roupa, estilo tiozão! — Ela riu e ambos apenas apertaram as mãos, não sabiam como se cumprimentarem após ela ter recusado o beijo.

— Não tenho muitas roupas, afinal a maioria que usava no orfanato era o uniforme, e eu gosto do meu estilo, e adorei sua camisa.

— Então já sei o que fazer, vamos comprar camisas novas para você, seu geek disfarçado. — Ela o puxou pelas mãos e saíram pela cidade.

Eles pegaram o ônibus, e foram conversando, sobre filmes de super-heróis, e outras coisas nerds que ambos gostavam.

— Elliot, me desculpe se você ficou triste pelo baile.

— Não se preocupe, já passou, ainda encontrarei minha amada. — Respondeu positivamente com um sorriso singelo em seu rosto.

— Com certeza! E então, já tem alguém em mente, ou alguma paixão antiga?

— Não! Não tínhamos tempo para conhecermos ou criar laços, só ficávamos na cidade em época de férias e no fim de ano, mas nada que pudesse criar algo profundo, tive minhas paixões, mas elas não sabiam lidar com minhas poesias. Sorriu tristemente olhando pela janela do ônibus.

— Sinto muito, você vai encontrar uma garota legal que valorize essas coisas.

— Eu também, eu também...

Eles passaram o dia comprando camisetas, e pararam para comer no fim de tarde. Foram em uma lanchonete, ambos pediram pastéis.

— Como você gosta de todas essas coisas, se de acordo com o que você contou, não havia tanto contato com internet e o mundo aqui?

— Meu professor Marcos, que me deu este anel, ele que falava dessas coisas comigo, e sempre dava livros, HQ’s e até assistia filmes comigo. Animes também.

— Legal, e como você está se adaptando a internet?

— É útil para músicas, filmes, leitura de histórias em quadrinhos, não gosto de ler livros por lá, conhecer pessoas, mas é confuso e contraditório.

— Como assim? — Perguntou Thalia, fazendo uma careta de confusão.

— As pessoas se expõem demais, tipo demais da conta, piadas sem graças normalizando situações que normalmente não são engraçadas, músicas com palavras de baixo calão, e sexualização, objetificação de si, e pessoas dizendo que amor próprio é tudo e ainda sim se desvalorizam e se importam com a opinião alheia, e o excesso de nudez ou semi-nudez. — Falou calmamente, mas expressando indignação. Ela levantou as sobrancelhas em espanto, uma mistura de não saber o que dizer, e estar ouvindo isso tudo pela primeira vez.

— É assim que você vê? Cada pessoa faz o que bem entender, e é piada ou apenas fazendo arte, nada demais, logo você se acostuma, afinal deve achar isso por não estar acostumado.

Elliot naquele momento sentiu um pequeno incômodo, pensou em responder mas sentiu que ela não o entenderia, e que iria se acostumar logo, e ele não queria se acostumar, queria mudar isso, e em resposta apenas sorriu. Terminaram a refeição e foram ao grupo de poesias.

II

Eu cheguei ao local da reunião, Thalia era apenas uma espectadora, então tivemos que nos separar, havia um palco improvisado, pois o lugar era um enorme galpão, e havia um tipo de lanchonete/cozinha e muitas pessoas, eu tinha que colocar meu nome em uma lista e esperar, parecia que tinha 60 pessoas para ir na minha frente, o que me deixou surpreso afinal chegamos cedo, e já havia gente declamando, uma das meninas havia me chamado a atenção, Suzana Amorosa, era por causa dos poemas e como ela buscava ser o mais amorosa possível com todas as pessoas, e alguns poemas que julguei serem vazios, ou rasos e alguns chulos, outros eram uma ofensa a mim e a poesia em si, pois a única coisa que havia era a descrição de sexo, falta de pudor. E então chegou a minha vez, depois de reler na espera vários poemas, escolhi um feito pensando em Catarina, ao subir no palco improvisado, avistei aquela imensidão de pessoas, pude ver Thalia olhando atentamente para mim, e na primeira fileira de cadeiras umas 6 pessoas que pareciam mais novas ou da mesma idade que eu, sentadas me encarando e completamente exóticos, e então o calor me subia, eu gaguejei em dizer meu nome, a voz saiu rouca, mas o poema foi audível:

“Eu me apaixonei

Quando brincamos

Eu nem sabia

O que sentia

Ou o que era poesia

Eu adorava

Quando me puxava pela mão

E corríamos ao horizonte

Fugíamos pelos corredores

Sem direção

Fingimos nos casar

Fingimos nos amar

Éramos crianças

E disseram

Que amor de criança

É o mais puro

E quando partiu

Nunca mais voltou

E de amor

Guardei o seu

Mesmo de mentira

O quis para ser verdade

Para minha triste

Realidade”

Elliot

Me aplaudiram, eu não me chamei de Viajante do Tempo pois temi que fossem rir, mas muitos gostaram, fui bem recebido. Eu desci do palco e um dos donos do local que era o grupo de pessoas exóticas do qual estavam na primeira fileira. Ele agradeceu a todos, e liberou a formação de pequenas “células” de poesias pela cidade, afinal não eram todos os dias que haviam aquela reunião no galpão, apenas uma vez por mês. Fui de encontro a Thalia e algumas pessoas foram me cumprimentando, e Suzana Amorosa me parou:

— Você chegou com tudo, adorei seu poema, Suzana muito prazer! — Fiquei sem reação, afinal eu não era o melhor em falar com meninas.

— Obrigado, prazer, Elliot!

— Muito prazer, você é novo aqui, nunca tinha ouvido falar dessa reunião, ou é novo na cidade?

— Sou “novo” na cidade, já vim aqui várias vezes na adolescência porém só agora que me mudei.

— Que ótimo, de onde você era?

— Morava no orfanato afastado da cidade.

— Ah então você é um dos órf.... — Ela parou a frase e não sabia o que dizer.

— Sim eu sou.

— Você escreve poesias a muito tempo? — Mudou rapidamente o assunto evitando olhar diretamente pra ele.

— Eu escrevo desde criança, todos que eram do orfanato sabem escrever poesias, mas acho que apenas eu tenho gosto e paixão por tal.

— Entendi, isso é interessante, espero ver mais de você e suas poesias por aqui.

— Eu vim chamar você para ir embora, mas parece que já está bem acompanhando! — Olhei sem entender a afirmação de Thalia, seria ciúmes? Ou pressa para ir embora e eu atrapalhava?

— Desculpa, eu tenho que ir, viemos juntos, perdão, essa é minha amiga Thalia e essa é ...

— Suzana Amorosa, eu sei, adoro seus poemas, muito prazer. — Interrompeu Thalia.

— O prazer é meu, você escreve poemas também ou apenas vem aqui admirar, Thalia?

— Apenas admiro, não tenho esse talento ou paciência.

— Entendo, para onde vocês vão?

— Pegar o ônibus para a parte norte da cidade!

— Eu também, posso me juntar a vocês?

— Claro! — Eu havia perdido total poder de conversar, ou de me manifestar, e estava com medo até de falar, não entendia nada. Fomos para o ponto de ônibus e elas conversaram coisas de meninas, na qual fiquei bastante desconfortável. Até que o Suzana fez o comentário mais indelicado possível:

— Espero não estar atrapalhando a noite do casal.

— NÃO SOMOS UM CASAL! — Respondeu Thalia de maneira rápida e até de forma que deixou-me triste e perplexo, como se fosse algo ruim de presumir, porém não consegui esconder a minha tristeza pela reação negativa dela.

— Entendi, então os dois são solteiros, ou algum de vocês namora?

— Eu mal conheço pessoas da cidade para isso.

— Solteira, mas por enquanto. — Olhei para Thalia sem entender.

— Então alguém gosta de você?

— Sim, mas é complicado... — Suzana passou a olhar levemente desconfortada.

— Você gosta dele?

— Sim.

— Então, o que tem de complicado? Comecem a namorar!

— Não é assim hoje em dia. — Fiquei muito confuso, e isso era óbvio.

— O ônibus chegou. — Falou Suzana cortando o assunto, entramos nós três e Thalia preferiu não sentar do meu lado, mas atrás, não havia muita gente, pois já era 22:00 da noite.

— Ela parece chateada, o que eu fiz?

— Talvez seja apenas um assunto delicado, ela pode ter se sentido mal por isso, ou sentiu invadida.

— Mas não vejo o que há de complicado, se duas pessoas se gostam, por que não se relacionar, e construir algo?

— As coisas não são assim tão simples Elliot, você já namorou?

— Não.

— Já ficou?

— Sim.

— Então entende que não é tão simples, porque só duas pessoas se gostarem não é suficiente, vai ver ela ou ele gosta apenas de ficar mas não se relacionar.

— Ficar onde?

— Em qualquer lugar ora.

— Não entendo o que ficar tem a ver com relacionamento, já fiquei aqui na cidade, ou no orfanato mas não com alguém, não estou entendendo.

— Também não, o que você está dizendo de ficar Elliot?

— Do sentido real, ficar é deixar de ir a algum lugar. — Suzana ficou chocada e confusa.

— Ficar é quando duas pessoas apenas se pegam sem se apegar Elliot, você nunca ficou?

— Não, e pegar, credo, parece falar de dois objetos, e por quê não se apegar?

— Algo físico e momentâneo, isso é bom, espera, se você nunca ficou, significa que você é....

Olhei esperando a conclusão da frase, sem entender.

— BV?

— O que é isso? — Ela ficou mais assustada e surpresa.

— Boca virgem, nunca beijou alguém. — Ela falou de uma forma sarcástica, e entendi que era algo que todos sabiam. Realmente, jamais imaginei que era algo assim.

— Ah, entendi, mas sim, eu sou.

— Eita!! Você é bonito, nem mesmo uma garota?

— Eu não gosto de coisas momentâneas, e as meninas não queria se “prender” a alguém que não estava na cidade a não ser nas férias.

— E porque não curtiu o momento?

— Algo passageiro? Não sou eu, e eu quero algo com sentimento, sabe uma demonstração de afeto, não algo, vamos nos beijar e ver no que dá?

— Acho que o orfanato alienou você, mas você vai encontrar alguém que pense assim, é fofo mas difícil. — Novamente aquela palavra “se acostumar”, mas agora veio com alienar, como se eu não soubesse das coisas.

Eu não sabia dos nomes e termos, mas tinha alguma noção, talvez fosse eu otimista demais para o mundo, e não queria me acostumar, essa palavra trazia uma inquietude em minha alma, e um tipo de deslocamento do qual não sabia muito bem, querendo evitar mais conversas sobre esse assunto apenas sorri, e decidi mostrar outros poemas meus. Suzana desceu em sua parada, Thalia e eu continuamos e paramos perto de meu prédio, eu a acompanhei até a casa dela, e depois segui caminho para o apartamento, me perguntando por que eu deveria me acostumar?

III

Ao chegar no apartamento Alcides havia comprado a televisão, mas já estava dormindo, banhei-me e dormi, pois no outro dia iria procurar emprego, além de enviar por e-mails e procurar curso de Letras. Eu saí sozinho antes das 09:00 e distribuí currículos pela cidade, procurei alguns cursos, e voltei para casa depois do meio-dia, Alcides não estava, então comecei a escrever:

“Acostume-se

Somos momentos

Acostume-se

É tudo bom

Acostume-se

E seja um de nós

Dê risada de tragédias

Exponha seu corpo

Ou endeuse alguém

Acostume-se

Procure prazer

Acostume-se

Venha viver

E logo

Se perder...”

Viajante do Tempo

Decidi assistir alguns dos meus filmes favoritos, e depois procurei pelos cursos de Letras. O dia passou, Alcides chegou, saiu com os amigos e tarde da noite voltou. Eu continuei procurando por empregos pelas duas semanas seguintes e não encontrei nada, as conversas diárias com Thalia e Suzana pelo celular ajudaram-me a estabelecer a amizade, mas o sentimento de deslocamento crescia também. Depois de um mês sem resposta de emprego, Alcides apareceu empregado em uma sorveteria, eu o parabenizei, mas logo fiquei frustrado pois ainda nada tinha achado, mas pelo menos nas reuniões de poesia eu havia conseguido um certo “renome”, mas ainda havia problemas com timidez, e estava indo sozinho desta vez, mas Thalia e Suzana decidiram me encontrar, e não parava de refletir, ainda não tinha encontrado alguém para me relacionar, o desemprego continuava, Alcides estava indo bem e já estava completamente mudado, pelo menos perto de mim ele ainda é o cara com quem cresci no orfanato, mas basta apenas um amigo de fora e ele muda, o estilo de vida dele é completamente diferente do meu, eu deveria me mudar, mas acho que é cedo demais para isso.

Cheguei ao galpão, e não havia começado ainda, porém uma jovem moça com um vestido florido, decidiu comentar algo sobre as mulheres se valorizarem mais e não se mostrarem por aí. Muitas garotas e uma das criadoras do movimento dos poetas entrou na discussão dizendo que ela era uma garota machista, poucos rapazes também estavam ali defendendo a garota e tentavam se defender de comentários ofensivos e sem sentido, e em minha ingenuidade, pensando que poderia acalmar a situação, e levar todos a uma discussão saudável longe das correntes da ignorância, eu me pronunciei:

— Concordo com a senhorita, acredito que a valorização de alguém está sem se preser....

— Seu machista!

— Nojento!! — Os comentários eram simultâneos, e a fundadora, a qual era negra, bonita e usava um cabelo black power ou cacheado, e com roupas curtas, apenas olhava, enquanto eu e outros éramos ofendidos, a multidão de meninas aumentava, e as ofensas continuavam, eu tentava dialogar mas era inútil, eu estava encurralado e sendo acusado de coisas que nunca fiz e de coisas que não era, eu fui ficando nervoso, a raiva subindo minha mente e o calor passando pelo meu corpo, encurralado, eu gritei sem pestanejar e sem pensar:

— Me deixem falar VADIAS!!! — Nesse momento o silêncio reinou, e Marcela, uma das fundaras olhou para mim e disse:

— Está banido, não o queremos aqui, alguém ignorante e atrasado como você, ofendendo garotas pela forma de se vestir. Retire-se ou iremos fazer isso por você! — As garotas aplaudiram, os rapazes atrás de mim e a garota do qual iniciou a discussão ao expor sua opinião, as outras aplaudiam, a multidão crescia, e eu foi para fora, nervoso, triste, envergonhado e humilhado, afinal poesia é minha vida e ali era onde eu podia expor minha arte, meu ser, meu amor.

Eu fui para casa, e mandei mensagem para Thalia e Suzana explicando a situação, enquanto eu esperava notícias delas só me restou escrever:

“Arrancaram a chance de expor meu amor

Mas a poesia não me abandona

A ignorância está naqueles

Que dizem não suporta-la

Mas são os mais presos

Em suas correntes

Humilhado, ofendido

Atacado

Silenciado

Como um malfeitor

Mas nunca causei dor?

Se essa é a sociedade

E aqueles que estão

Abertos há diálogos

São silenciados

Por estes

Que lutam contra a ignorância

Deveria eu mudar o mundo

Mas não consigo nem ser ouvido

Poesia não me abandona

Já o amor?

Apenas o que reside em mim

Do qual não encontra alguém

E ninguém o procura

Ou demonstra querer

Viajante do Tempo”

Recebi uma mensagem de Thalia:

“Uau, não esperava por essa, você um machista? Quero distância kakakak, mas por outro lado, não discordo das meninas usarem qualquer roupa, mas dizer que você é um machista isso é um exagero, tente se comunicar com Marcela, ou tente uma célula dos poetas, pode ajudar, eu lamento sobre isso, sei como essas assembleias tem ajudado você, eu falo mais com você amanhã, pois cheguei agora e estou cansada, beijos”. Isso não me trouxe ânimo, então esperei por Suzana, e a mensagem veio:

“Agora entendi, sinto muito pelo que houve, mas você ter ofendido elas, não pareceu certo, porém pelos tempos que passei por você, tu não se mostrou machista nem nada, mas também consigo entender que você sendo ofendido não foi certo. Marcela fez um discurso com todos os donos da assembleia sobre como não toleram machismo, e nada ultrapassado. ”

— Eu não fui machista, talvez ofender elas sim, mas elas estavam me xingando e a Marcela não fez nada!

— Eu entendi, mas não sou próxima dela para que você possa voltar, e sinto muito, você é muito legal Elliot, mas tente falar, ou procurar outro do tipo, tenho que dormir, nos falamos mais amanhã. — Eu não respondi a mensagem, estava frustrado então procurei uma célula de poesias e para minha sorte a encontrei.

IV

Esperei uma semana para ir até a “célula” e até lá apenas me deparei com mais fracassos em empregos, e em relacionamentos, nenhuma garota me respondia ou quando conversava, só me deixava como amigo, ou não queria sair pessoalmente, completamente frustrante. Eu então fui para essa célula, minha expectativa era alta, era em um bairro na parte sul da cidade, perto de uma quadra, tinha bastante gente até, eu fui sozinho, Alcides já se desligara completamente dos princípios do orfanato, e poesia era uma piada, embora conversássemos durante o dia, e sobre filmes e até a ideia de termos videogames, relacionamentos ele dizia as mesmas coisas que eu, mas não as vivia. Cheguei ao local 18:00, estava me acostumando bem a andar de ônibus fazendo apenas três meses que mudei para a cidade, pelos menos eu estava dominando isso, pois os outros aspectos da minha vida.... Apenas fracassos.

Quando cheguei havia dois poetas no meio declamando poesias juntos, e o público maior era de garotas, o que me deixou grandemente preocupado, minha timidez já era grande, com garotas então... porém cheguei e me apresentei:

— Eu sou Elliot, pra-prazer, eu sou novo na cidade, e sou po-poeta! — Disseram que eu era muito bem-vindo, e pediram para eu recitar um poema, no qual não hesitei, embora com vergonha e timidez assim fiz:

“Meu coração não é deste tempo

Tempo esquecido

Onde o amor

Era mais vívido

E não falado

Não me querem

Silenciam-me

Não me enxergam

Minha companhia

Negam

Ofereço amor eterno

Mas perco

Para o momentâneo

Viajante do Tempo”

Fui bem recebido, aplaudido e de repente uma garota ela se chamava Maitê, não tinha nem 15 anos, e começou a pedir conselhos amorosos para ficar com o primo dela, e todos começaram a discutir sobre isso, e a poesia foi para o brejo, enquanto todos começaram a desabafar sobre a vida amorosa e outros com problemas familiares, e assim por diante, e outras falando de baixa autoestima, outras pedindo curtidas e seguidores em redes sociais, eu nem conseguia falar, até que uma garota nova se apresentou, Maya, em torno de 1,60, boca carnuda, morena, cabelos ondulados, corpo incrivelmente bonito, e deram a ideia de eu fazer uma poesia para a garota nova, pois os dois poetas faziam isso, então eu me apresentei e peguei meu bloco e escrevi:

Sua pele da cor do pecado

Seus cabelos ondulados

Com sua boca chamativa

É uma tentação

Chama atenção

Aquece o coração

E o fere

Por não poder

Sentir

O toque

De alguém

Que por sorrir

É capaz de seduzir

Viajante do Tempo”

Ela sorriu timidamente, e todos aplaudiram, ela pediu para ler o poema e tirar uma foto dele, assim o fez, e enquanto os assuntos estranhos, indecentes eram colocados em pauta, Maya e eu conversámos, expliquei minha vida e ela gostou, ela tinha um namorado, mas não estava em melhores termos, a reunião ainda acontecia, mas decidi ir embora quando deu 21:00, peguei o ônibus e voltei para casa, onde Alcides decidiu apresentar sua namorada, Ellen, fiquei feliz por sete segundos. Ela era linda, e doce, e eu não entendia como ela quis namorar com ele, se conheceram pela internet, e ela saiu algumas vezes com ele e os amigos e assim começaram a namorar. Eu decidi dormir mais cedo e deixar as frustrações de minha vida para as próximas 24 horas, enquanto eles conversavam e outras coisas que faziam barulho.

Acordei tarde, depois de revirar em minha cama perguntando-me se havia algo de errado para tantos fracassos amorosos, as garotas que eu conhecia ou não me consideravam para namorar ou namoravam, e fui expulso do lugar onde eu mais conseguia expor minhas poesias e agora esse cara que só sabe beijar sem compromisso e é uma pessoa diferente quando está perto de mim, agora tem namorada. Decidi me inscrever em um curso de inglês, e foi tudo certo, as aulas começariam um mês depois, várias turmas, um prédio grande no centro da cidade. Por mais que eu falasse com Suzana e Thalia, nenhuma delas demonstrava algum interesse em mim, Maya tinha algumas conversas mas preferi não me aproximar muito, afinal de contas ela tinha namorado, eu ia as reuniões da pequena célula de poesias mas poesias não tinham muita coisa, era mais adolescentes confusos pedindo conselhos a jovens mais confusos querendo atenção, enquanto alguns falavam de poesia e o resto só estava tentando encontrar alguém legal, era problemáticos anônimos, se todos começassem a falar seu nome toda vez antes de falar. Aquela garota Maitê, tinha vários problemas, ela fantasiava com o primo, isso era nojento, e algumas pessoas incentivava, mais nojento ainda. Mas uma ou outra vez paravam para ouvir meus poemas, eu estava indo novamente pela terceira semana, já que não havia emprego, estudo e minha vida era composta de escrever, ver filmes e séries e conversar com pessoas pela internet, que se resumia a três, cheguei na célula e pelos menos ainda paravam para ouvir minhas poesias:

“O que há de errado comigo?

Eu repilo tudo que desejo

Meu amor tão puro

É desconhecido

Quero lábios

Para declamar

Meu amor em forma de beijo

O futuro um dia

Pareceu promissor

Mas só encontro

Dor e frustração

Ninguém quer saber

De meu coração

Viajante do Tempo”

Aplaudiram e voltaram a conversar, Maya veio falar comigo:

— Belo poema, você está bem?

— Olá Maya, estou sim e você?

— Ainda meio complicado com meu namorado.

— Espero que as coisas melhorem logo.

— Obrigado, seu poema parece triste e seu eu lírico é bem verdadeiro então, porque não desabafa comigo? — Hesitei por um momento, e percebi que não faria mal.

— Ok então. — Respondi suspirando.

— Então, estou esperando Viajante do Tempo. — Ela falou sorrindo e dando uma cutucada de leve tentando me animar.

— Bom, eu me mudei para cá já vai fazer três meses, não consegui um emprego, eu quero me relacionar com alguma garota, mas até agora eu me mostrei um repelente de meninas, as que falam comigo não tem um pingo de interesse amoroso, eu fui banido da assembleia de poetas por impor minha opinião e ofender meninas depois de mil ofensas contra mim e ainda saí como machista ignorante, meu amigo é alguém comigo mas com outros ele é completamente diferente, eu me sinto deslocado... — Foi a primeira vez que expliquei o sentimento de deslocamento que eu tinha. Ela olhou para mim e para os lados e então falou:

— Então, acho que você é muito carente Elliot. — Acho que essa fala era óbvia demais para eu ouvir. — E você querer um compromisso logo de cara, isso assusta a maioria das garotas, tipo curte primeiro sabe, seja paciente.

— Porque todo mundo fala de “curtir” como se entrar em um relacionamento não fosse algo bom?

— Entrar em um relacionamento é algo complicado, sabe tem que saber se tem química, e não custa ficar, você já ficou, e depois de um tempo ficando então vai lá e se inicia o relacionamento.

— Eu nunca fiquei, e isso é confuso, afinal as pessoas não estão se conhecendo, elas estão se entregando sem ser conhecer.

— E isso é bom, se entregar é bom Elliot! — Eu olhei assustado pela forma que ela falou aquilo, e decepcionado pois ninguém entendia o que eu queria dizer ou sentia, e dizer que um órfão é carente é um tanto óbvio.

— Entendi, eu só não me sinto bem com isso.

— Vai passar, agora sobre a assembleia dos poetas, o que realmente aconteceu? — Suspirei novamente tentando não mostrar a minha frustração.

— Eu cheguei ao local, e havia uma garota que estava levantando a questão de que mulheres deveriam se valorizar mais com as vestimentas invés de se mostrar por aí, e eu concordei, mulheres começaram a me ofender e eu fiquei nervoso e as ofendi, a menina que promove ou e dona não sei, ficou olhando enquanto eu era ofendido, porém quando ofendi depois de ser atacado, ela me expulsou e baniu-me do lugar.

— Então acredita que as mulheres não podem se vestir como quiserem?

— Não disse isso, então não ponha palavras em minha boca! — Usei um tom autoritário do qual ela não gostou, mas ficou quieta. — Eu sou cristão, minha crença e cultura é de se valorizar sem se mostrar, não quis censurar, isso é minha opinião, agora se a minha opinião fere alguém, aí o problema é eu ou a pessoa que se feriu com meu pensamento que não foi nem imposto? — Ela parou por um momento, enquanto expliquei isso relembrei que fazia tempos que não ia em algum culto, no orfanato sempre tiveram bons cultos...

— Bom, eu entendi, mas elas te ofenderam e depois você as ofendeu?

— Sim, e a tal rainha da cocada preta não interviu, parecia que estava esperando eu fazer algo apenas para me botar para fora.

— Então reconhece o seu erro? — Eu estava começando a ficar nervoso, pois depois de tudo que falei, ela só prestou atenção nisso.

— Sim!! Eu cresci em um orfanato Maya, era uma enorme família, professores, Senhoras da limpeza e irmãos, se havia discussão logo era tudo resolvido, e eu que nem conheço aquelas moças sendo acusado de coisas que nunca fiz e nem teria como eu ter feito por mal ter contato com mulheres!

— Entendo, acalme-se, eu entendi, tente conversar com os donos, e ver se te aceitam, não custa nada tentar, afinal poesia é muito importante para você.

— Entendi, vou tentar, vou procurar ela em redes sociais.

— Faça isso, e tente se livrar destas correntes que moldaram você, está muito engessado, curta, vá devagar. — Percebi que não faria diferença explicar mais nada. — Eu tenho que ir, espero que fique bem, e adoro seus poemas, um dia você encontrará alguém.

Ela beijou minha bochecha e saiu, fiquei vermelho, e decidi sair ir embora, não me ajudou muito falar com ela na verdade me sentia cada vez pior. Mandei mensagem para Thalia e Suzana e elas tinham a Marcela em rede social, eu a procurei e enviei uma mensagem, era questão de esperar.

Na manhã seguinte recebi a ligação do curso de inglês e houve algum problema e eu não poderia fazê-lo, novamente a vida parecia me surrar. Porém Marcela respondeu minha mensagem.

— Sim, eu me lembro de você, o que quer?

— Eu quero voltar a assembleia.

— Mas você ofendeu aquelas moças, e foi completamente machista, afinal mulheres tem o direito de se vestir da maneira que elas querem!

— Mas eu só concordei com a menina, não quis impor nada, e elas ficaram me ofendendo.

— Isso não vem ao caso, as mulheres agora ocupam vários cargos importantes e elas devem se vestir como quiserem, você precisa mudar esse pensamento atrasado caso queira voltar a assembleia. — Neste ponto eu me toquei que falar com a parede seria mais produtivo, e que a poesia era mais importante para mim.

— Tudo bem, o que preciso fazer?

— Eu te farei um texto e você terá que ler na frente de todos.

— Tudo bem.

Devido aquelas circunstâncias, eu já estava manchado na assembleia por ser algo que não era, e percebi que já que não sou nada do que falam, era mais importante a poesia e espalhar o amor que eu acredito do que ficar de fora por uma ignorante como aquela. Eu recebi o texto e ri dele até, mas concordei. Os dias passaram Alcides conversou comigo sobre o acontecido e concordou, depois de rir bastante sobre o acontecimento:

— Realmente, se é tão importante e você sabe que não é nada disso, é só fingir.

— Sim, e percebi que com esse tipo de pessoa não dá para ter um debate inteligente.

— Sim, mas como você está?

— Tirando todos os fracassos, bem, com eles péssimo!

— Relaxa, vai encontrar alguém, conseguir sua faculdade e um emprego legal, eu só consegui o emprego porque meus amigos daqui e bom, a Ellen foi conversando e eu acabei ficando com ela depois de bebermos um pouco. — Minha cara de desaprovação era óbvia.

— Como você tem tantos amigos? Vínhamos para cá com a mesma frequência.

— Eu tinha um celular escondido no orfanato. — E deu uma certa risada.

— Entendi, mas você sabe que eu penso e que é errado essas ações.

— Eu sei eu sei, mas aconteceu e o lado bom, conheci a Ellen, e nunca mais vou beber e essas coisas, gosto dela.

— Entendi, eu vou indo para a assembleia, até mais tarde.

Alcides, espero que esteja falando sério, é meu irmão praticamente, e não quero vê-lo se tornando apenas mais um como todos os outros. Ouvi minhas músicas antigas, Elvis me acalmou, entrei e Marcela estava me esperando, ela era bonita, mas fazia questão de se expor e mostrar que era “diferente”. A reunião já havia começado, quarto mês fora do orfanato e apenas um na assembleia, Marcela subiu ao palco e falou:

— Há um mês atrás, houve uma confusão com um ato de machismo horroroso, e nós banimos os envolvidos, porém um deles me procurou pedindo uma segunda chance, e depois de mostrar para ele seu pensamento atrasado e que ele deveria mudar, ele veio para cá arrependido e pronto para dizer algumas palavras. — Eles aplaudiram, e eu me contive para não rir daquilo, pois ela não me convenceu nada, mas percebi que era essa a aparência que ela queria ter para todos.

— Boa noite, me chamo Elliot. — Me sentia um idiota e com mais vergonha, além de ter que segurar o riso. — Há um mês atrás eu fui completamente machista ao ofender várias meninas pela forma que se vestiam, e peço desculpas verdadeiramente, — Pelo menos isso era verdade. — E quero dizer que graças a conversa com Marcela percebi que meu pensamento era atrasado e que agora não serei mais como era. — Contendo o riso e a vontade de vomitar ao mesmo tempo. — Obrigado e me perdoem. — Os aplausos foram grandes, eu desci do palco, não fiz apresentação nenhuma, depois dos recitais, várias meninas falaram comigo e agradeceram por eu ter mudado meu pensamento, quando encontrei Thalia e Suzana elas riram de mim, e expliquei que minhas poesias eram mais importantes do que a falsa opinião de pessoas que são arrogantes e ignorantes, e pelo menos voltar para a assembleia me alegrou. Fui para casa e pude dormir tranquilamente até o outro dia.

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