A sua existência me desestabiliza. Me influencia a auto-tortura; auto-mutilação. Eu queria que pudéssemos coexistir, se possível, mas não dá, né?
Porque eu sou grande demais pra viver entre tuas entrelinhas, me encolhendo no meio das palavras não ditas e malditas. E você é miúdo, quase um carrapato grudado na minha pele, sugando meu sangue bastardo, mas de miudez em miudez não se fez capaz de prover ajuda.
Como que alguém vive 20 anos sem escutar um pedido de ajuda?
E sabe o que é engraçado? Na sua miudez, de alguma forma, tudo ainda era sobre você. Todas as dores, o silêncio, tudo doía e se remoía dentro do peito, me fazendo duvidar de cada escolha que eu fazia. Você era o parasita perfeito, venenoso e controlador, e de repente tudo era você. Você, você e você.
E eu entendo, sabe, juro que sim. Mas você não pode nem imaginar o quanto isso mexe comigo; em mim vive o ódio e a dor de várias gerações que viveram no mesmo ciclo doentio. O trabalho de sísifo, de fato, era genético e espiritual.
Porque tu me desestabiliza só por estar ali. Só pelo não-dizer, só pelo não-fazer. Tu me quebra e me monta de novo, me faz correr quando eu deveria andar, corta as beiradas de mim que escapam do molde que você criou antes mesmo d’eu nascer. Me faz sentir a culpa de pecados que nunca nem ouvi falar sobre.
Para ti, sou o demônio? Ou um pobre pecador tentado? Pra mim sou os dois, mas pra você depende do humor do dia, certo? A dualidade é impossível no meio das suas próprias sombras. Mas tá tudo bem; eu também não consigo aceitar sua estagnação. Acho que estamos fadados a sermos contrários, não importa no quê.
E, se você não se esforça pra fazer isso funcionar, por que eu deveria?